quinta-feira, setembro 30, 2004

Não entendo bem...
Perde-se e começa-se a dar valor ou começa-se a dar valor e percebe que perdeu?
Mas faz diferença?
E quanto mais você tenta se livrar de alguma coisa, mas essencial ela lhe parece?
Definitivamente... não entendo bem.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Aí tinha esse menino calado e muito tímido. Ele gostava secretamente daquela menina bela, apesar de um pouco sisuda. Ele sempre buscava coragem para contar para ela o que sentia. Mas não sabia o que falar. Tinha medo da reação dela. Tinha medo de se frustrar. Ele sabia que ela gostava de ler e foi por isso que ele se meteu a ser escritor. Mas descobriu que são longos os caminhos que fazem de alguém um bom escritor. Não desistiu. Decidiu escrever aquilo que muito queria. Tentou escrever um texto falando sobre amor e mostrando os sentimentos que trazia por aquela menina. Não conseguia. Ainda não era bom em fazer palavras dizerem o que sentia. Então ele escreveu um pequeno bilhete com uma frase apenas, que longe de dizer o que ele sentia, comunicava muito bem o que queria. Tomou coragem. E com um sorriso nervoso olhou para os olhos dela e lhe estendeu o bilhete. Ela abriu e leu o pequeno pedaço de papel com apenas uma frase escrita, olhou para ele e lhe retribuiu com um sorriso cativante e sincero pela primeira vez na vida.

sábado, setembro 18, 2004

Brincando de atualizar.
:P

atendendo a pedidos

domingo, setembro 05, 2004

uma conversa com Maria Flor - parte I


- Começando pelo começo. Quando e onde você nasceu?
  - 19 de fevereiro de 1980, em Recife. Terça-feira de Carnaval.
- Quem são seus pais?
  - Meu pai é comerciante, dono de uma cadeia de loja de brinquedos. Minha mãe é professora universitária.
- Como foi sua infância?
  - Meus pais eram muito ocupados e me deixavam o dia todo na escola. Era bem estranho porque poucas crianças ficavam o dia todo na escola e depois da aula eu ficava lá com uma babá tomando conta de mim enquanto todos iam para suas casas. Minha mãe se preocupou muito com minha formação e meu pai me deu muitos brinquedos. Mas acho que me deram uma boa educação e sempre se esforçaram para estar presentes. Eu era uma criança que não dava muito trabalho, minha mãe vive dizendo isso até hoje. Claro que aprontava das minhas, mas no geral era simpática e por ser precoce todos se surpreendiam. Acho que cativava a todos com facilidade.
- Teve amigos?
  - Alguns. Tinha os amiguinhos do colégio, mas eram basicamente amiguinhos do colégio. Também tinha Rebeca e Davi, que eram irmãos. Moravam na minha rua e vivíamos brincando. Foi com eles que aprendi um pouco sobre esse tipo de relação fraternal. Sempre estávamos juntos, mas era bem clara nossa separação, no fim da brincadeira eu voltava para casa sozinha.
- Isso incomodava?
  - Não. Acho que, analisando agora, foi assim que aprendi a não depender dos outros. Não entendia muito porque uma coisa acontecia a Rebeca e influía diretamente em Davi, e vice-versa. Deve ter tido momentos em que quis ter um irmão, mas isso também me ensinou a me virar sozinha.
- Podemos passar à adolescência?
  - Claro (risos).
- O que é tão engraçado?
  - Essa pergunta. Foi feita já com a intenção de passar para a adolescência, não? Digo, por que não perguntou logo?
- Talvez por educação, ou para organizar um pouco a ordem das coisas. O fato é que se tivesse mais algo sobre sua infância que você quisesse contar, então, eu estaria disposto a ouvir.
  - Sei. Mas não sei se saberia falar algo sobre mim que não fosse motivado por uma pergunta. Mesmo que a pergunta fosse mais específica, e eu acabasse entrando em outros assuntos.
- Tem algum motivo para isso?
  - É meio difícil ficar falando sobre a gente mesmo, né? Sei lá. A gente não lembra de tudo e também não é tão fácil expressar certas coisas.
- Por que não?
  - Porque não é. Sei lá. Linguagem verbal não é perfeita, tem coisas além da razão... posso dar um monte de respostas desse tipo.
- Mesmo se você se esforçar um pouco mais?
  - Acho que eu estou me esforçando muito. Você tem idéia de como isso não é muito cômodo?
- Por que não?
  - Você está tentando me testar?
- Não... só quero saber mais sobre você.
  - Por que? O que há de tão interessante em mim?
- É o que estou tentando descobrir.
  - Por que? Por que tem que saber sobre mim?
- Não sei. Talvez porque não consiga domina-la muito bem nos meus pensamentos e vez ou outra estou pensando em você. E acho que se conseguir conhecer você melhor vou saber mais ou menos os motivos de pensar tanto em você e vou poder dominar meus pensamentos.
  - Você quer escrever sobre mim?
- Sim. Quero. Mas não sei por quê. Deve ser porque enfiei na cabeça que sou um escritor.
  - Já parou pra pensar que talvez eu não tenha nada a ver com isso?
- Já. Mas se não tivesse eu não estaria tentando loucamente saber de você.
  - E isso está ajudando?
- De certa forma está. Talvez você possa me convencer do contrário.
  - Tá certo. Talvez possa falar a você sobre minha vida e você vai ver que não é nada demais. Que eu sou exatamente como qualquer outra pessoa.
- Mas é isso que eu quero descobrir.
  - Ok (risos). Vamos lá. Que quer saber?
- Então passemos à adolescência. Você disse que tinha sido uma criança precoce, certo? Isso também se refletiu na adolescência?
  - Acho que sim. Refletiu no fato de eu ter abandonado o segundo grau para passar dois anos viajando.
- E como conseguiu entrar para a faculdade?
  - Supletivo.
- Mas foi tudo planejado? Você sabia que ia voltar para fazer supletivo ou as coisas foram simplesmente acontecendo.
  - Acho que se eu não tivesse planejado o mínimo que fosse, não ia ser muito precoce. É o tipo de coisa que qualquer pessoa com 15 anos gostaria de fazer, o problema é que não têm coragem e não planejam. Eu desisti e fui viajar porque sabia exatamente o que queria fazer e claro que sabia da possibilidade de fazer supletivo seguir normalmente para universidade. E foi o que fiz. Mas como você sabia que eu fiz faculdade?
- Simplesmente supus.
  - Então pelo menos nisso não fui tão imprevisível.
- A princípio sim, mas diante dessa trajetória, acho incrível você ter conseguido fazer faculdade. Porque normalmente não é o que acontece.
  - Talvez não, mas também não é um grande feito.
- Certo. Mas então, você prefere falar da adolescência desde o começo ou prefere contar logo como foi a viagem.
  - Posso fazer os dois se quiser.
- Mas antes... Por que quis viajar?
  - Tem tanta coisa por aí pelo mundo, achei que devia conhecer. Achei que devia ir ao máximo de lugares que eu pudesse e aprender em todos eles.
- Então você pensava que para aprender todas essas coisas deveria viajar?
  - Isso. Mas tem algo mais. Tem gente que conhece muita coisa mesmo sem ter tido oportunidade de viajar. Paulo mesmo é uma pessoa dessas. Talvez eu pudesse ser como ele, aprender essas coisas sem ir embora...
- Mas não fazia sentido para você, certo? Conhecer as coisas sem experimenta-las.
  - Talvez seja outra forma de experimentar que acontece com gente como Paulo. Acho que ele se recente de não poder viajar, mas não acho que seja pelo fato de não ter tido uma experiência imediata.
- Não? Então por que?
  - Pelo mesmo motivo pelo qual, no fim das contas, eu viajei. Quando você viaja sem conhecer ninguém no lugar para onde vai, as pessoas não sabem quem você é. Elas não criam expectativas a seu respeito, não existe tanta cobrança.
- Deixa ver se entendi. Você viajou pela possibilidade de ser uma pessoa nova em cada lugar que chegava?
  - Mais ou menos isso. Ser diferente, mas ainda ser basicamente... eu mesma.
- E por que voltou?
  - Quando percebi que a viagem era o objetivo em si, então eu já o tinha atingido. E me pareceu uma corrida sem rumo. No final de tudo, não havia novidade mais em poder ser uma pessoa nova a cada dia.
- Então voltar seria uma experiência nova.
  - Exatamente. Isso mesmo. Voltar sempre é uma experiência nova. Tentar se adaptar às coisas como elas eram antes, mesmo que tudo já seja tão diferente.
- O que mais impressionou ao chegar aqui?
  - Talvez ver que Paulo havia aprendido a conviver com sua nova condição. Não sei se me impressionou mais do que me deixou contente. Ele não estava mais amargo por ter que usar cadeira de rodas para o resto da vida.
- Você sentiu culpa por tê-lo deixado depois do acidente?
  - Às vezes sentia. Mas mais pelas pressões e cobranças dos outros do que qualquer coisa. Sei que mesmo diante de toda aquela amargura na qual ele mergulhou, ele nunca me impediria de ir embora. Nunca me cobraria nada, porque ele sabia que isso podia acontecer de uma forma ou de outra.
- Tem algum problema de falar mais sobre esse acidente?
  - Prefiro não falar mais nisso. Se não se importa.
- Tudo bem. Não sei se tenho mais algo para perguntar.
  - Ah! Mas já acabou? Pô. Deve ter mais coisas que você precise saber para escrever sobre mim.
- O que, por exemplo?
  - Coisas simples. Sei lá. Tipo o que eu faço da vida e tal.
- Você trabalha como gerente em uma das lojas do seu pai, certo?
  - Nossa! Você deve ser bom. E fiz faculdade de quê?
- História da arte, eu acho. Pode ter sido arquitetura. Seja lá o que for, isso é algo bem interessante, porque você volta para fazer faculdade e no final acaba trabalhando com algo que não tem muito a ver com sua área.
  - É. Também acharia interessante se tivesse vendo de fora. Na verdade eu fiz Licenciatura em Artes Plásticas, o que acabou me direcionando a trabalhar com crianças, no fim das contas não está assim tão longe.
- Vai dizer que vende brinquedos educativos?
  - Têm alguns que são. Mas pra falar a verdade nunca dei a mínima pra isso. Acho que a gente pode aprender com uma porção de coisas, então isso é besteira.
- É o que você quer fazer para o resto da vida?
  - Cara, eu só tenho 24 anos. Como você espera que eu saiba o que quero fazer para o resto da vida?
- Certo. Mas você é vegetariana.
  - Não. Já fui durante uns dez anos. Mas voltei às carnes. Pegando leve, claro.
- Por que?
  - Pelo mesmo motivo da resposta anterior. As coisas mudam.
- Cozinha?
  - Às vezes.
- Gosta?
  - Muito.
- É boa cozinheira?
  - Sei me virar bem. Não lembro de terem se queixado.