domingo, agosto 31, 2003


Sobre uma folha de papel em branco...

... e todas as coisas que nela poderiam estar. Cartas, tratados, receitas médicas, artigos, notícias, recados, contos, primeiras páginas de romances, rascunhos, poemas, desenhos, projetos, também poderia ser um origami, uma bola jogada contra alguém, podia cair no chão e alguém pisar, aí teria uma pegada. Tudo isso esperando um ato de violência que muda a natureza de uma simples folha de papel em branco, que não significa nada, mas pode significar tudo. Quando se para em frente de uma folha de papel sem saber o que fazer, o que ela quer dizer? Por que tortura tanto? Tantas possibilidades, tantas escolhas possíveis, e isso paralisa.



Sobre tudo que poderia ser... mas depende de uma escolha que exclui tantas outras coisas.

sábado, agosto 30, 2003

Sabe aquelas horas na vida de uma pessoa em que tudo que ela quer fazer é ouvir Coralie Clément? Não... acho que ninguém passa por isso. Só eu mesmo... E já faz um bom tempo que estou nessa.

segunda-feira, agosto 25, 2003

Na nova edição do Dicionário Oxford tem uma nova definição para o verbete 'brazilian'. Brazilian, segundo a ampliação, significa um estilo de depilação dos pelos pubianos femininos no qual só uma pequena faixa de pelos é deixada no centro. Acho que diz muito sobre ser brasileiro. Se alguém aí estiver com uma crise de identidade nacional acho que o conceituado dicionário inglês possa ter alguma relevância para por fim nisso. O dicionário mantém a definição mais tradicional de que brasileiro é algo ou alguém natural do Brasil. Como brasileiro você pode escolher entre uma ou outra, dependendo da conveniência. Isso é que é identidade fragmentada.

Eu saí de casa e fui ver um filme que tinha quase certeza que não seria grande coisa. E estava certo. A festa que nunca termina fala sobre Manchester e sobre as bandas de lá... tem uns toques de humor sobre conhecimento pop e um monte de piadas (a maioria interna), acho que é o típico filme "regional". Lembra de Conceição, aquele curta que mostra o Recife e tem um taxista falando coisas filosóficas como "se Deus fosse colocar um piercing no mundo, ele colocaria no Recife... o Recife é imbigo (sic) do mundo" aí depois aparecia um monte de ilustres desconhecidos da "cena" recifense. O filme inglês me deu essa sensação... só que no caso estamos falando de um movimento musical muito mais intenso e com mais repercussão mundo afora do que o Recife pensou um dia em ter.

Reflexões: o carinha lá, a certa altura, diz que está tentando ser pós-moderno antes que vire moda. Quando eu comecei a tomar contato com Jameson, Baudrillard, Berman e etc, esse papo de PM já era uma piada acadêmica. Mas parece que ainda tem graça, a ponto de estar num filme de humor. Ian Curtis se enforca aos 24 anos, tem uma frase dele dizendo que Bowie é impostor e que se Yeats tivesse morrido aos 25, ele (Curtis) teria ouvido falar do tal poeta. Vou fazer 26 daqui a poucos meses, ainda tenho algum tempo.

sexta-feira, agosto 22, 2003

mas nada a ver, o livro é todo fragmentado mesmo... e fala de coincidências e tal... parece que eu consegui terminar de ler no momento certo. Tá. Você não acredita nisso. Fazer o que? Claro que não vou lhe emprestar.

"Você arranhou meu disco de Lupicínio e agora ele só repete que a felicidade foi embora"

quinta-feira, agosto 14, 2003

Tem duas pessoas com quem eu me importo muito. Uma mora longe, eu vejo uma vez no ano. A gente sempre foi distante. Começamos a trocar e-mails, mas ela parou de responder. A outra mora na minha casa, eu vejo o seu problema que me deixa muito preocupado, mas eu não consigo lhe dizer nada. Nunca disse antes, talvez ele achasse estranho de eu dizer agora.

domingo, agosto 10, 2003

Poxa! Não é bem isso exatamente. Talvez se eu soubesse explicar eu não precisasse fazer. Não é isso que as pessoas fazem? Elas tentam racionalizar uma coisa pra depois não precisarem fazer... tipo tanto faz se elas fazem ou não. A coisa meio que já existe, sabe? Tá. Vou tentar explicar melhor... Não... Eu não consigo explicar melhor. Mas é tipo quando você precisa de um exemplo para expor algo. Se você já tivesse exposto esse algo de uma forma racional e clara, não precisaria do exemplo. Eu sei, pô. Os exemplos podem ser legais. Não estou dizendo que são perda de tempo... Mas num caso, digamos, ideal como este, não faria diferença o exemplo. Concorda? O louco é que tem certas coisas que não têm um exemplo concreto. Aí você torce para que as pessoas façam o mesmo percurso que você pra que possam entender exatamente a questão...

Ah! Esquece! Não. Tudo bem. Esquece, pô. Eu não vou saber explicar. E você não vai entender. Não!! Culpa minha de não saber explica. E seria culpa minha também de esperar que você pudesse ter uma compreensão desse tipo. Porra! Não. A maioria das pessoas não têm. Aliás, eu nem cheguei a conhecer alguém que tivesse. Por isso, relaxa.

Tem uma coisa. Vou pegar aqui para você ver. Tá aqui:

Existe ainda a tentação oposta e equivalente de olha para o mundo como se fosse uma extensão do imaginário. Isso algumas vezes também aconteceu a A., mas ele recusa a aceitá-lo como solução válida. Assim como todo mundo ele busca um sentido. Como todo mundo, sua vida é tão fragmentada que, toda vez que vê uma ligação entre dois fragmentos, fica tentado a procurar um sentido nessa ligação. A ligação existe. Mas lhe dar um sentido, olhar além do mero fato de sua existência, seria construir um mundo imaginário dentro do mundo real, e A. sabe que isso não se sustentaria. Em seus momentos mais corajosos, ele adota a ausência de sentido como o princípio primordial, e depois compreende que sua obrigação é ver o que está à sua frente (embora esteja também dentro dele) e dizer o que vê. Está em seu quarto na rua Varick. Sua vida não tem nenhum sentido. O livro que escreve não tem nenhum sentido. Existe o mundo, e existem as coisas que a pessoa encontra no mundo, e falar sobre elas é estar no mundo. Uma chave quebra dentro da fechadura e alguma coisa aconteceu. Ou seja, uma chave quebrou dentro da fechadura. O mesmo piano parece existir em dois lugares diferentes. Um jovem, vinte anos depois, acaba morando no mesmo quarto onde seu pai enfrentou o horror da solidão. Um homem encontra seu antigo amor em uma rua de uma cidade estrangeira. Isso só significa aquilo que é. Nada mais, nada menos. Depois, ele escreve, como na frase: "ele escreveu O Livro da Memória neste quarto".


É incrível. Tanta coisa e cada uma desperta sensações diferentes em cada um. Mas no fundo, dá no mesmo. Acho que por isso identificar-se não é algo assim tão difícil de acontecer. Ok. Eu digo isso por mim.

domingo, agosto 03, 2003

- Para se dar bem na arte de trocar os amigos você tem que se preocupar com algumas coisas básicas.
- Você está falando sério?
- Ué! Claro! Pode ser muito útil em algum momento da sua vida.
- Eu, hein!
- Primeiro passo: sabe aquele ditado que diz pra nunca contratar alguém que não possa demitir? Você faz o mesmo que as amizades. Nunca fique amigo de alguém que não vai poder mandar embora da sua vida depois. O princípio básico é procurar pessoas que possam ser facilmente substituíveis.
- Você só pode ser maluco. Qual a finalidade disso? Isso é algum tipo de indireta?
(pausa dramática)
- Não. (outra pausa dramática) Você é insubstituível...
- Ah!
- Então você não é muito bom nisso...
- É... pensei que fosse. A culpa deve ser sua.
- Não adianta. Você não consegue fazer essa pose de cara durão. Você não é tão insensível quanto quer parecer.
- Mas... péra. Toda regra tem uma exceção, né? Então você vai ser a exceção, ok? Satisfeita?
- Não. Você sabe que não é assim. Porra, quando você conhece uma pessoa... você acaba aceitando certas coisas... mesmo que seja inconsciente... Quando se torna amigo de uma pessoa você acaba aceitando, mesmo que não saiba, todas as complicações... Não é fácil assim. Como saber o que a pessoa vai trazer pra sua vida? Como saber que vai poder substituí-la?
- Ah! Qual é? Vai dizer que todo mundo é insubstituível.
- Não. Acho que a princípio tem gente que é substituível. Mas isso não é uma ciência exata.
- Ah! Não fala merda. Você nem sabe o que é uma ciência exata...
- É. Você tem razão.