fazia muito tempo que eu não escrevia assim, só por escrever. durante algum tempo foi só o que eu fiz de verdade. e algumas vezes fazer isso era incrivelmente prazeroso. nem sempre a gente lembra o quanto certas coisas são prazerosas, mas também porque é difícil algo ser simplesmente prazeroso quando você cria expectativas em torno. não faz muito tempo eu andei a ler e a assistir coisas para conseguir escrever sobre aquelas imagens que simplesmente surpreendem a pessoa, sobre o afeto que surge dessa experiência única que é algo te atingir em cheio. e eu estou escrevendo justamente por algo que me pegou em cheio. e eu nem esperava que fosse tanto. acabo de ver Ratatouille e o que esse filme deixou aqui é difícil de explicar. e, no entanto, é extremamente estimulante. a vida deve ser mesmo imprevisível.
posso dizer que esse ano vi coisas maravilhosas, algumas dessas imagens que te fazem ver o indizível, o impensável. por isso mesmo, deve ser estranho para muita gente entender porque todo esse barulho em torno de um simples desenho animado. mas é justamente por ser um “simples desenho animado”. tem uma frase num livro de Edgar Morin que diz que tudo o que um poeta vê é poesia, assim como sonho é tudo o que vê um sonhador. é interessante pensar nisso, as coisas que tu vês como algo a definir aquilo que tu és.
posso não lembrar aqui de todas os filmes vistos por mim esse ano e que foram experiências boas. inclusive, esse foi um ano que fui pouco ao cinema, por isso acho que me dei a oportunidade de ver e rever coisas antigas, que eu precisava mesmo ver. e teve tanta coisa. tanta descobertas. rever a trilogia do Poderoso Chefão foi algo muito pensado e planejado. rever Táxi Driver e Touro Indomável foi puro impulso. no entanto, descobrir Dias de Paraíso foi muito importante. mais um daqueles filmes que entram na lista de “filmes da vida”. entre essas tiveram várias outras, muitas delas importantes. algumas que eu quase não sei o que dizer a respeito: O Estranho que Nós Amamos e alguns episódios do Decálogo. Nem todas foram vistas nas melhores condições, mas no final o que fica é a imagem, é o que se sente com elas.
em Jogo de Cena eu vi uma mulher emocionada com Procurando Nemo, um filme que deve ter marcado muito a vida dela. e isso tem muito a ver com o que eu tento escrever aqui. porque muitas vezes não existe um motivo especial para isso, e é bom mesmo que não exista. lembro de tentar convencer algumas pessoas de que O Hospedeiro – um filme de monstro – é algo que merece muito ser visto. e como tentar convecê-las se existe uma predisposição sobre como ver um filme de monstro. ou como ver uma comédia adolescente, ou até mesmo um desenho animado. às vezes tento perceber o percurso que me levou a ser tão aberto com esse tipo de coisas, e não tenho nenhuma conclusão. mas fico feliz comigo mesmo por me permitir isso. já nos direcionam tanto com relação a tantas coisas na nossa vida, coisas que muitas vezes são impostas como escolhas. por que eu iria abrir mão de ver algo que pode realmente ser marcante para mim, me deixe alegre ou me deixe triste?
creio que Ratatouille fala um pouco sobre isso, sobre deixar as predisposições um pouco de lado no momento em que surge um daqueles sentimentos genuínos, que parecem tão raros depois de um tempo. a história é também sobre como utilizar os talentos, mesmo que pareça errado, mesmo que não deixem devido a alguma convenção qualquer. mas, mais importante do que isso, é sobre personagens, pessoas com quem você se importa no final das contas. pessoas como a maioria das pessoas que você conhece. mesmo seja um rato, ainda assim é uma pessoa.
e não faz diferença se o filme é uma animação em 3D. porque, quando a história flui, isso é o que menos importa. é uma imagem e tu não pensas nela como mera tecnologia. fico pensando em como as coisas se desenvolvem até chegarem um ponto não serem mais tão relevantes, o que importa é o que trazem. fezendo considerações sobre os filmes de 007, série da qual nunca fui muito fã, consegui perceber o quanto algo que se acontece ao longo de décadas para chegar numa cena como aquela do chuveiro de Casino Royale só pode ser algo importante. no entanto, não é só isso. é importante porque existem pessoas que têm aquilo como algo importante desde sempre, até que elas conseguem te mostrar isso. por outro lado, eu sempre me interessei por comédias adolescentes, aquelas sobre o colegial. e fico feliz quando vejo que outras pessoas se interessam tanto quanto eu a ponto de fazer Superbad ser um filme tão bom, e ser uma simples comédia adolescente.
no final de Santiago tem um diálogo de um filme de Ozu sobre a vida, no qual se diz que a vida não tem nenhum sentido ou algo assim. Santiago é um filme sobre a relação de alguém com as imagens que um dia criou, mas nunca soube o que fazer sobre elas. uma reflexão sobre a trabalho e sobre a vida. contar a vida de um mordomo sempre tão dedicado ao seu dever de servir bem as famílias para as quais trabalhou, também dedicado à historia de tantas grandes famílias que nunca conheceu. e no final de tudo o que ele deixou foram suas memórias e páginas e mais páginas de manuscritos em um velho apartamento. e para que serve isso no final das contas. não sei. creio que para algo muito menos importante do que a pessoa em si. e o que importam são elas.
não tem importância alguma um texto sobre Ratatouille, assim como o próprio filme não significa coisa alguma para um monte de pessoas. o que é relevante, talvez, seja a idéia que algo sem importância, possa dizer sobre as pessoas que falam a seu respeito.
sábado, dezembro 29, 2007
sem importância
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