quarta-feira, dezembro 17, 2003

Ter aquela certeza de que a gente vai estar para sempre só não é algo assim tão comum. Temos normalmente a impressão de que não, de que existem pessoas por perto, tem sempre alguém com quem contar, basta olhar ao redor. No entanto, existem eventos que nos mostram magicamente nossa solidão. Que vão dar a certeza de que, sim, está-se sempre só. Esta certeza não dura tanto. Dura apenas até a ilusão de que é possível não estar só volta. E ela volta, justamente, porque não queremos estar sós. Buscamos respaldo, companheirismo, compreensão, solidariedade, compaixão... Talvez porque não seja legal estar sozinho...

Em uma cena de Conta comigo (e falo de cinema porque acho que é uma das poucas coisas de que sei falar), o personagem fala de um evento que ele guarda para ele e só conta anos depois quando está escrevendo um livro sobre a infância. Ele está pegando água num riacho e aparece um alce ao seu lado. Aí o personagem explica que não quis comentar aquilo com os amigos, seria uma experiência que seria só dele. Talvez ele tenha feito isso por causa dessa visão de que não era nada demais: o que tem de fantástico um alce vir beber água do seu lado? (Grandes merdas). Mas se foi uma experiência solitária, que significou tanto para ele, porque ele teria que se explicar? E ele não se explica, ele apenas menciona, e, se alguém captar, bom, se não, paciência.

Um evento deixou bem claro como estou só nesse mundo. Não digo isso resignado, nem triste, nem mórbido... digo as coisas como realmente as vejo. Não acho necessariamente bom estar só, mas não é necessariamente ruim. Talvez antes eu pensasse que precisava de alguém que pudesse me tirar dessa solidão. Agora sei, tendo uma pessoa que está quase sempre por perto (e estando feliz por isso), que esse alguém não existe.

Sim, eu gostei do filme. Gostei e não sinto necessidade de explicar a razão. Pelo simples fato de que foi uma dessas experiências solitárias que eu não espero que alguém venha a entender. Mesmo que alguém tenha gostado, com certeza não foi pelos mesmos motivos.

Talvez, se o sujeitinho do alce lá do segundo parágrafo, não estivesse só (e se alguém aí disser que ele não estava só porque havia o alce, por favor, feche essa janela ou vá para outra página, pois não tenho como argumentar quanto a isso) alguém pudesse espantar o alce, ou fazer alguma piada cretina. E se ele tivesse contado para alguém talvez o convencessem de que aquilo era uma tremenda vontade. E da mesma forma que às vezes gostamos de nos iludir que não estamos sós, às vezes achamos bom pensar que algo banal é uma acontecimento incrível.

Podem me dizer o que disserem sobre o filme, e acho que podem encontrar argumentos bastante eficientes para provar que é uma bobagem. Eu não me importo, pois estou disposto a continuar sozinho. Eu entendo uma pessoa achar que é uma porcaria, mesmo sem concordar, porque respeito a sua solidão.

No momento em que escrevo, estou vendo aqui do lado A invenção da solidão e talvez essa solidão seja mesmo inventada. Mas ele fala dessas experiências que poderiam ser fantásticas para alguém, mas são coisas que simplesmente acontecem, e, por outro lado, parecem ser coisas que simplesmente acontecem, mas continuam sendo especiais para alguém.

O filme em questão é It’s all about love.

** Não seria correto pensarem que acho não valer a pena discutir e mostrar argumentos sobre o que for. Nada como uma boa discussão. Vai da disposição de quem está discutindo.

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