.::Ginsberg, Glass, McCartney e os esqueletos do mundo::.
Allen Ginsberg é um dos poetas americanos mais renomados do século passado, tendo feito parte do movimento Beat na década de 1950. Ele fez várias gravações dos seus poemas, algumas, indo além da simples leitura, incorporando experimentações sonoras e musicais. Seu nome transcende o mundo literário e estende-se a certos setores da música popular. Ele aparece no vídeo de Subterranean Homesick Blues, de Bob Dylan.
Philip Glass é mais conhecido pelas suas trilhas sonoras para o cinema, mas é um compositor influente na música do final do século XX. Fez parte da vanguarda nova-iorquina, tendo seu nome ligado à música minimalista - embora não aceite muito o rótulo. Seu trabalho inovador na música orquestral pode ser apreciado já em sua primeira ópera Einstein On The Beach. Sua colaboração com Allen Ginsberg começou com o musical Wichita Vortex Sutra.
Paul McCartney ficou conhecido por causa de um fenômeno musical chamado Beatles. Além de grande músico, é um compositor bastante popular. Várias de suas composições estão entre as mais executadas de todos os tempos. No entanto, McCartney também já trabalhou com experimentações e tem preensões que transcendem a música pop. Sua colaboração com os dois anteriores aconteceu no single The Ballad of the Skelletons lançado em 1996.
Poemas musicados, como disse no começo, não era novidade na carreira do Allen Ginsberg. Nem colaboração com grandes nomes da música, em geral, e do rock, em particular. Esse trabalho, no entanto, consegue agregar o melhor que esses três artistas ofereceram ao mundo. Para começar, o poema destila ironia e sarcasmo para sintetizar aspectos da sociedade no final do século XX através da fala de 66 esqueletos que representam setores do contexto global, dando ênfase aos Estados Unidos, alvo maior das críticas. Mostrando discursos preconceituosos ("Said the macho skeleton, 'women in their place'") e vazios ("said the neo-conservative skeleton, 'homeless off the streets' / Said the free market skeleton, 'use 'em up for meat'"), Ginsberg aponta os erros do mundo, com um certo ar de decadência humana, representada pelos esqueletos.
Enquanto o escritor fala suas frases repletas de humor-negro, uma banda liderada por Glass e McCartney faz uma performance incrível com a música composta pelos dois. Philip Glass cria o clima com seu teclado idiossincrático. Paul McCartney mostra sua versatilidade fazendo um contraponto dinâmico em um antológico órgão Harmmond, além de tocar guitarra e bateria. Mesmo tendo uma atmosfera retrô, talvez exatamente por isso, trata-se de uma das faixas mais rock n'roll lançadas na década passada. Para os mais desinformados pode parecer estranho a afirmação. Para aqueles que não conhecem o espírito, digamos, anárquico da poesia de Ginsberg, ou para os que acreditam na lenda de que McCartney era o menos roqueiro dos Beatles, ou, ainda, para aqueles que acham estranha a presença de Glass, o melhor é ouvir a música e tirar suas próprias conclusões. A informação de que Lenny Kaye (que toca com Patti Smith) é responsável pelo baixo e a sessão de guitarras conta ainda com Marc Ribot (já teve trabalhos com Tom Waits, Elvis Costello e John Zorn) pode dar uma idéia do que estou falando.
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