terça-feira, fevereiro 15, 2005

Ok. Eu deveria estar escrevendo sobre outras coisas. Afinal, eu tenho um mestrado pra terminar. Mas eu preciso mesmo escrever isso. Porque assistir Menina de Ouro fez lembrar como cinema se presta a contar histórias, a apresentar personagens como pessoas de verdade e oferecer imagens inesquecíveis. Sim. Esse filme faz tudo isso. Primeiro, porque tem uma voz melancólica narrando tudo, mas não é aquele tipo narração óbvia de dar chiliques em cineastas mais clássicos, nem espertinha para fazer a festa dos mais descolados. É um relato, não de como as coisas aconteceram e são mostradas no filme, mas que serve para localizar a história em algum lugar na memória afetiva do narrador. Poderia soar piegas, sem dúvidas, e talvez até soe. A questão não é essa. Porque dá para entender os motivos daquele narrador falar daquela forma quando se conhece, durante o filme, os personagens com quem ele conviveu. Talvez fosse exatamente assim que um zelador de uma academia de boxe agisse ao falar dos seus amigos. E eles estão lá, bem no primeiro plano, não implorando por atenção ao seu drama e sim vivendo aquela situação. Falas interessantes, mas que não foram ditas com esse propósito. E não é que o filme traga planos impressionantes ou imagens, digamos, "inovadoras". É um filme com soluções visuais coerentes: imagens simples que nos apresentam aquele treinador, aquela lutadora, que era garçonete. Que em uma das cenas tem o nariz quebrado e agüenta a dor. Que sangra. Enquanto o treinador guarda cartas dentro de uma caixa de sapato. E come uma torta de limão atrás de uma vidraça embaçada.

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