"Pra quê eu vou atualizar meu blog se eu não atualizo minha vida"Lilo
Esta frase foi usada para justificar a desatualização do blog. Ela bem poderia fazer parte do blog referido no post anterior, mas talvez fosse 'existencialista' de mais para isto. Bom, o fato de estar aqui atualizando o blog, não é exatamente por ter atualizado a vida. Antes disso, ainda estou no processo de atualizar a vida e atualizar o blog faz parte dele. Então...
Tenho pensado muito num filme que até já mencionei aqui antes: O homem que não estava lá dos irmão Cohen. Quando fui ver o filme fui esperando ver um filme técnica e esteticamente magnífíco mas sem muito conteúdo, como foi dito numa crítica que eu li, já que as outras também não davam muita atenção a que o filme podia ter a oferecer como discussão sobre a vida. Quando cheguei na Fundação, encontro uma ex-colega de trabalho que acabara de ser exonerada. A gente conversou, inevitavelmente, sobre o acontecido, perguntei-lhe se tinha algo em vista e coisas do tipo, falamos também da participação dela na produção de um curta, dos irmãos Cohen e, claro, da expectativa pelo que estávamos prestes a assistir.
Sim, o filme. É realmente o que tinham dito: uma homenagem aos filmes noir. Clima bem construído, fotografia de um preto-e-branco contrastado, fumaça, cigarros, atuações frias e distantes, diálogos, narração em off e mais diálogos. Mas e a história? Um homem se empurrando pela vida; mulher, casa, trabalho... tudo que torna uma vida completa... e tediosa. A forma dele se relacionar com a mulher, com o sócio e com as demais pessoas, pode parecer incomodamente forçada e irreal, mas a medida que o filme avança é exatamente isto que torna tudo mais triste. Vemos, então, este sujeito indo atrás de um desejo, tentando mudar de vida com a lavagem a seco. Quer dizer que ele tem ambição. Claro que tudo dá errado. E dá errado e errado... até que o filme acaba. A luz acende, nós saímos da sala... mas eu deveria esquecer aquilo tudo rapidamente. É um filme de forma, não de conteúdo. Por que ele continua na cabeça? Não era para levantar nenhum tipo de questionamento, mas por que tem algo nele que me deixa muito pensativo?
Não sei dizer exatamente se foi a forma que se tornou o conteúdo, creio que não. Poderia falar que estava suscetível a isso tudo. E se reconhecer isto é porque acredito que uma coisa não invalida a outra. Se tivesse ido ver, sei lá, algum filme do Jackie Chan, dificilmente teria feito os mesmos questionamentos. Bom, voltando. Saímos da Fundação e enquanto acompanhava minha colega até o ponto de ônibus – voltei a pé, como de costume – a gente não falou muito sobre o filme, mas acho que tivemos a mesma impressão. O única coisa que lembro bem é que ela falou pelo, acho que pro filho dela, que o filme era muito bom e que depois comentou comigo: “não sabia que era um filme tão triste”. Senti um frio pelo corpo, uma espécie de solidariedade. Mas era estranho porque constatei que ela estava numa situação parecida com a que eu tinha enfrentado alguns meses antes: ter levado um golpe em cheio na auto-estima (depois soube o que acarretava ela ter perdido o emprego, sustentar a família e tals). Era estranho ver alguém passando por aquilo e não puder fazer muita coisa. Quando a gente se afastou senti muitas coisas. Estava triste por causa do filme. Uma das coisas que mais me caracterizam é falar pouco. Então lamentei não ter dito nada a ela. Tristeza e lamento... acho que a única coisa que me confortou, foi o pensamento de que aquilo tudo fazia parte da vida. Talvez a gente passe por essas coisas exatamente por isso, pra pensar na vida, pensar no que a gente está fazendo dela. Às vezes é difícil entender onde estamos, porque a gente só faz correr de um lado para outro tentando dar sentido a tudo. Naquele momento, foi agradável saber que estava voltando para casa. Assim como ela estava, e um monte de outras pessoas.