segunda-feira, março 21, 2005

sobre o tempo que leva até perceber que o tempo passou

em algum momento na minha adolescência eu assisti Antes do amanhecer e é aquele tipo de filme muito fácil de você se identificar com ele quando é adolescente. acho que muita gente deve ter visto esse filme e ter tido a mesma sensação que eu. pô, eu já fiz planos de passar a noite percorrendo uma cidade estrangeira com uma estranha, uma francesa, ainda por cima. e aquela coisa romântica de fazer o momento valer a pena e deixar que o acaso os una de novo. e tem meio aqueles ecos da famigerada e assustadora geração X, aquela coisa de ficar andando aí pelo mundo sem ter muita certeza do que vai ser o futuro. sei que gostei do filme, lembro de que nele tem duas ou três frases que eu vibrei (embora não lembre exatamente quais são as frases) e apesar disso tudo eu não lembro de tê-lo visto mais de uma vez. vi em vídeo, acho que logo quando foi lançado, mas não sei precisar exatamente quando.

aí fiquei sabendo que o filme ia ter uma seqüência e a princípio achei meio nada a ver, porque lembro justamente que tinha gostado do final meio indefinido do primeiro filme. mas claro que fiquei curioso pra ver o filme e saber como tinha sido a vida desses personagens nos últimos nove anos.

aí eu assisti o filme faz alguns dias. e ele traz uma sensação estranha. primeiro porque você percebe que o tempo passou. o período entre a despedida deles no final do primeiro filme e o reencontro nesse é de nove anos, o mesmo intervalo entre o lançamento dos filmes. então assistir Antes do pôr-do-sol é um exercício estranho porque o tempo para os personagens pode ser o mesmo tempo para o espectador. então, se você viu o primeiro filme faz tempo, você vai perceber que muita coisa aconteceu na sua vida desde então, assim como aconteceram coisas na vida dos personagens. as mesmas pessoas, mas ainda assim diferentes. uma coisa a indicar isso é o fato deles terem se lamentado esses anos todos o fato de não terem trocado telefones, nem endereço. e no primeiro filme eu gostei quando eles tomaram essa atitude, mas aí nesse filme novo eu me vi concordando com os personagens de que aquilo foi um estupidez enorme. claro, a visão de mundo agora é completamente outra. o filme acaba sendo uma experiência diferente, não fica só na sala, não é só o tempo de projeção... tem todo esse intervalo de anos que você acaba se dando conta, assim como os personagens fazem no filme.

e a cena que mais me abalou no filme foi uma imitação de Nina Simone. na época do primeiro filme eu não conhecia bem Nina Simone, mas provavelmente já devia ter ouvido My baby just cares for me. acabei conhecendo e gostando muito dela. teve um ano que eu lamentei não poder ir vê-la se apresentar em São Paulo. e depois ela morreu e eu nunca mais vou poder ver um show dela. aí tem essa cena em que Celine conta que foi a duas apresentações dela, e pergunta a Jesse que diz que nunca teve oportunidade de ir. foi quando veio essa sensação que não sei definir bem o que é, mas é como se o filme tivesse se tornado real. durante esse tempo, em algum lugar entre 1995, ano do primeiro filme, e 2005, quando eu assisti o segundo, eu havia conhecido essa cantora, que veio a falecer em 2003, aí tem esse personagem de ficção que se lamenta de não ter ido a nenhum show dela e tem essa outra personagem de ficção que comenta sobre como ela era ao vivo e começa a imitá-la.
Antes do pôr-do-sol pode ser um filme muito simples em termo técnicos e estético, mas a sensação de realidade e cmplicidade que essa cena me proporcionou foi algo inédito em filmes.

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