domingo, julho 20, 2003

É, eles lançam um disco novo e parece que todo mundo começa a falar deles. Realmente deve ter algo relevante no que eles fazem. Tipo, eu nem posso falar sobre o Hail to the thief porque eu nem escutei o disco propriamente. Eu baixei as músicas pela internet, mas numa mixagem que não era a final. Da versão que foi lançada em disco eu escuei There There, na verdade eu vi o clipe e acredito que deva ser a versão do disco. O que acho engraçado sobre estar no mundo no momento em que o Radiohead lança esses discos é que eu posso ver como música pop - e não posso falar de uma forma mais abrangente pois não conheço o suficiente de música erudita, principalmente da produção contemporânea - é algo difícil de se analisar porque mexe com outras coisas que vão alem da música, coisas que vão até mesmo além da arte. Dos discos realmente importantes para a música (e me refiro essencialmente à música e às formas como elas podem ser criadas e interpretadas) que o pop foi capaz de oferecer, não lembro de nenhum que tenha sido lançado desde que eu me entendo por gente além do Kid A e do Amnesiac.

Sgt Peppers, Pet Sounds, Bitches Brew, Tago Mago, Autobahn, Free Jazz (desculpem-me a obviedade obtusa), todos esses discos chegaram para mim sem o calor do momento em que foram lançados, já depois de inúmeras discussões e algumas 'conclusões' a respeito da contruibuição deles para a música ocidental da segunda metade do século XX. Claro, ainda têm a capacidade de chocar, de emocionar e causar afeto que tinham antes. No caso dos dois discos do Radiohead eu pude presenciar todo o fervor que o disco causou. Radiohead já era uma banda consagrada, já tinha inúmeros fãs e já tinham mudado a vida de muita gente. Sei que com os outros artistas também foi dessa forma, mas sei porque alguém me disse. Presenciando isso com o Radiohead eu precebo como música pop também é uma questão de paixão, é algo que realmente faz parte da vida das pessoas, e muitas deles nem estão aí para o que realmente é a música, num sentido mais específico de uma forma de expressão com séculos de história.

Quando o Kid A foi lançado muita gente estranhou, alguns o destestaram de cara, outros caíram de amores na primeira audição. E isso faz sentido, todo sentido: espera-se pelo novo disco do Radiohead da mesma forma que tem gente que espera pelas novas coleções de varão das marcas famosos ou outros esperam pelo novo modelo de BMW. É natural reações tão apaixonadas. Mas, depois que as paixões passam, o que fica? Eu estranhei o Kid A quando o escutei, cheguei até a rejeitá-lo por um tempo, aos poucos, acho, acabei acordando para a complexidade das músicas e aceitando o clima que era construído por elas. Daí para aceitar o Amnesiac foi bem mais fácil. Mas para mim foi preciso entender a ação consciente dos integrantes da banda em ir além dos limites da música. Talvez hoje seja fácil dizer isso, fácil demais. O disco já é também uma dequelas obviedades obtusas. Mas eu não estou preocupado em analisar os discos, até porque eu não sou crítico musical e tenho pouco conhecimento sobre música. É mais o lance dessa passagem da impressão apaixonada para uma constatação mais profunda sobre o que é realmente o disco, sabe? Se isso leva tempo ou não vai da aptidão de cada um. Tipo, por mais que demore, acho que é importante pensar racionalmente nos objetos das nossas paixões. Claro, que não de uma forma fria, mas de uma forma consciente.

Sei lá, eu só tô falando isso porque eu vi um show do Radiohead que passou na MTV, e foi super bem filmado, e é interessante ver os caras tocando num palco e pessoas gritando, cantando e dançando, simplesmente curtindo a música dos caras. Claro que eu queria ter estado lá, claro que eu tenho vontade de ver Radiohead tocando ao vivo, claro que eu quero simplesmente me deixar levar por tudo isso. Mas, depois que passa, alguma coisa tem que ficar...

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