Isso mesmo. E é bem legal mesmo. Sei lá. Às vezes você pode pensar que tem umas coisas desnecessárias que eles só colocam junto pra agregar valor e tal. Mas se você observar, claro que com um pouco de boa vontade, você vai ver que é bem interessante. Por exemplo, no de As virgens suicidas tem um making of que mais parece um desses vídeos caseiros sobre algum feito, umas férias ou uma temporada em algum lugar. É extremamente familiar, o documentário. Coppola e a mulher dele falando sobre a primeira experiência da filha, depois aparece um primo de Sophia que participa do filme. O irmão Roman também está lá pra ajudar. Aí James Woods aparece falando que adorou estar no set com Sophia, e que já ter trabalhado com o pai dela torna tudo mais especial ou algo assim. Scott Glenn fala algo parecido, que conhecia a diretora desde criança. Depois aparece Jeffrey Eugenides conversando com ela, depois fazendo piada com a peruca de Josh Hartnett. Kirsten Dust faz uma declaração sobre como é trabalhar com Sophia. No fim, fica aquela impressão de "Sophia Coppola, a garota talentosa, determinada e persistente". Claro que o fato do pai dela ser considerado um dos grandes cineastas dos EUA deve ter sua importância... Tudo bem, você pode perguntar: e o que isso vai contribuir para o produto final do filme? O documentário não chega nem a ser didático, para no caso de alguém querer saber como se faz um filme daqueles. Mas, pô. É um filme sobre família, de certa forma. Claro que a família da menina que vemos no documentário é bem diferente, o oposto, da família das meninas que vemos no filme. E a forma como a menina do documentário consegue lidar com os outros e os outros lidarem com ela é bem mais simples e menos doentia, talvez com a relação que os meninos têm com as meninas do filme. Tem essas coisas que você pode ver assim ou de outras formas. Não faria falta, é verdade, mas eu gostei de ter visto.
Só que o que eu acho mais excitante em DVDs é a possibilidade de ver o filme dublado em outras línguas. Tem em espanhol e em português ou um dos dois normalmente. Não sei se em outros têm outras opções. Em português talvez seja banal para quem já viu filmes em TVs abertas. Até a adolescência eu só via filmes dublados na Tv e muitos eu só tive oportunidade de ver dessa forma. Claro que não é a mesma coisa de ver com o som original, até porque normalmente a qualidade da dublagem é muito ruim. Mas acredito que não é muito diferente de ler um livro traduzido. Talvez por a gente ver tanto filme estrangeiro desde sempre, a gente não note que só o fato de vermos um filme que se passa em uma outra parte do mundo já deveria demandar uma "tradução". É algo que supostamente deveria estar distante da realidade da gente, mas não é o que acontece, porque os signos sempre estiveram presentes na nossa vida. Claro que a gente deve entender o código de uma forma um pouco diferente, mas o fato que não é isso que impede que a gente assista á um filme como Taxi Driver, por exemplo. Quando eu vi esse filme, e foi Globo, dublado, eu ainda era criança, de certa forma aquelas visões de Nova Iorque criaram na minha cabeça uma referência do que era uma cidade estrangeira, mas todo mundo falava português mesmo, e o cara era um motorista de Táxi como um monte que eu via nas ruas, só que ao mesmo tempo era diferente. Isso deveria ser muito estranho pra mim, mas não era. Claro que eu não devia ver aquele filme, pois é muito violento, mas o fato de ser uma realidade que eu nunca presenciei de fato, in loco (e mesmo que vá lá hoje não vou presenciar, certamente), não causava nenhuma confusão pra mim. Filmes eram feitos longe mesmo. E era alguém me mostrando como pessoas de longe viviam e o que elas faziam. Acho que foi mais estranho ter visto o Recife naquele tele-filme da Globo, porque era a cidade que eu via quando passeava de carro, e estava num filme, que devia ser feito longe.
Enfim, claro que se eu puder escolher, vou sempre preferir ver o filme na versão original. Mas eu acho que tem algo de enriquecedor - de certa forma, e num sentido mais de experiência do que te consumo da obra fílmica - em ver Julianne Moore gritar "Tenha vergonha. Tenham vergonha" depois de vê-la gritar "Shame on you. Shame on both of you". Unicamente pela sensação de deslocamento. Por não deixar esquecer que aquilo também é um exercício de trazer pra uma realidade diferente algo que alguém fez através e a partir de uma realidade específica.
sábado, julho 05, 2003
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