sexta-feira, novembro 11, 2005

contrabandista


tem toda aquela história sobre filmes de contrabando. filmes que são feito de um jeito que parece um filme, mas lá dentro tem outro filme. esse tipo de coisa é comum em filmes de estúdio, onde um diretor pode fazer um filme autoral parecer um blockbuster. ou quando um filme de terror é, no fundo, um filme político. aí, a pessoa vai ver um filme de Amos Gitai, que é um cineasta bem político, mas vai ver por causa de uma cena de choro que dura uns dez minutos. e quem está chorando é Natalie Portman, que no filme se chama Rebecca, mas tem um história parecida com a da atriz. algum desavisado, que não conheça muito sobre Gitai (o que é algo bastante aceitável), talvez possa pensar que se trata de um contrabando: um filme para mostrar um rosto conhecido, que na verdade é um filme político. e talvez tenha um pouco disso. só que parece que Gitai complica mais ainda as coisas. ele não tem a preocupação de esconder que é um filme político. nessa cena dos dez minutos de choro, toca uma música sobre um cordeiro comprado por duas moedas com uma temática parecida com aquela música que tem uma velha a fiar (o cordeiro é comido pelo gato, que é mordido pelo cachorro, que apanha com um pau, que é queimado pelo fogo, que é apagado pela água...). só que, de fato, essa é uma música política, em que, depois de acontecer tanta coisa por causa do cordeiro, pergunta até quando esse ciclo de violência vai perdurar. então, se é de fato um filme de contrabando sobre duas mulheres que vão de Israel para a Jordânia para acertar uma transação financeira e a outra simplesmente a acompanha, Gitai mostra o contrabando bem na primeira cena. Rebecca chora porque rompeu o noivado, o filme começa com esse choro, mas só o desenvolve em outro nível. a história de Rebecca é contada de uma forma pouco usual: enquanto ela viaja pela Jordânia a bordo do táxi de Hanah, as imagens do relacionamento dela com o noivo são sobrepostas às imagem da estrada e do carro em deslocamento. então, o filme não está interessado no drama de Rebecca, mas também não o descarta. na verdade, é Hanah, que tem que resolver alguns negócios do marido num lugar chamado Free Zone, que é um lugar de fronteiras (entre-lugar). o filme se centra nas diferenças entre as pessoas de culturas diferentes para fazer comentários sobre o oriente médio e toda aquela coisa entre árabes e judeus. tem falas sobre as Entifadas, sobre problemas territoriais, cenas de alfândega. uma das cenas mais interessantes neste sentido é quando Rebecca fala sobre a influência do Império Romano naquela região, só que Hannah, não parece muito interessada. sim, Rebecca é uma personagem perdida no meio daquela história. ela é uma americana, que se mudou para Israel por causa do noivo judeu, mas tem problemas com a sogra, pois ela não é judia, apenas o pai dela é judeu. lá para as tantas ela diz que não sabe a que lugar pertence. também tem Laila, que é palestina, casada com um sujeito conhecido como ?o americano?, que é quem deve dinheiro para o marido de Hannah. Laila que tem que levar Hannah até o dinheiro, mas as duas não se entendem, ou fazem questão de parecer que não se entendem. parece confuso? pois eu achei que o filme não tem muito uma razão de ser. e no final ele mostra que não chega em lugar nenhum. o fato é que as atrizes são boas. tem uma cena em que as três ouvem uma música pelo som do carro enquanto dirigem de volta para Israel, e dividem a mesma satisfação. o filme tem ótimas cenas. tem um monte de coisinhas sobre aquela coisa complicada que é o Oriente Médio. e se Hannah Laslo tem um desempenho tão bom para ter ganho o prêmio em Cannes, Natalie Portman está linda. e ela aparece um bocado para uma personagem que não tem nada o que fazer na trama. então, realmente me parece um filme de contrabando: um filme que parece ser um filme político, mas no fundo é um filme para ver Natalie Portman.

o título do post não é sobre Gitai, mas sobre mim mesmo, porque eu fui ver Free Zone com a única intenção de ver Natalie Portman. e vi. eu esperava um filme muito ruim. só que ele não é ruim. só não tem uma razão de ser. ou tem, mas fica tudo fora da tela.

e esse ano foram três filmes da Natalie Portman vistos no cinema... o que não me deixa nem um pouco satisfeito porque eu perdi de ver Hora de Voltar. nunca vou me perdoar por isso. por sinal eu ainda não via Hora de Voltar, porque as locadoras do Recife estão de complô contra mim.

Um comentário:

Unknown disse...

Vi o filme. tb fui atraída pela presença da N. Portman. Achei intrigante! Encontrei seu blog acidentalmente, procurando a música (do dordeiro) q grudou sabe... rs. preciso ouvir inteira de novo. Isso é pq faz tempo q vi o filme, claro.
Vc evitou o desfecho do filme pq imagina q aqueles q ainda não viram não gostariam de sabe-lo, não é?
Vc não perdeu o momento em q o ciclo se fecha e envolve Rebecca, certo?