ontem eu vi 2046. e não consigo não achar estranho de ter sido no multiplex. ok. o público foi o que sempre vai ver esse tipo de filme onde quer que ele passe. não tive o prazer de ver aquelas pessoas que decidem o filme na hora entrando na sala "por engano". mas, vendo a coisa de uma forma mais ou menos objetiva: era um filme numa sala de exibição. não há nada de estranho nisso. mais ou menos.
eu cheguei a conclusão que eu estava na sintonia perfeita para ver o filme. não que eu estivesse morrendo para ver. até foi um filme que eu esperei um bocado para poder ver, mas era como algo inevitável: cedo ou tarde eu o veria. então, nenhum desespero com relação a isso. o fato é que talvez seja o filme menos interessante de Wong Kar Wai. ainda assim foi muito bom tê-lo visto ontem. porque é um filme muito auto-referente. seria estranho vê-lo sem ter visto, no mínimo, Amor à flor da pele. então, vendo 2046, dá mais ou menos para entender porque eu gosto tanto de Wong Kar Wai.
tem uma cena que te lembra o clima de algum outro filme dele, e você está gostando dessa cena, e lembra que gostou tanto daquele outro filme. tem as histórias (ou trajetos) que se cruzam, e você lembra que isso era tão legal nos outros filmes. tem a música. tem a fumaça. as pessoas sempre tão sexy. os pequenos gestos. as narrações. os letreiros. a fotografia. as técnicas que ele sempre usa. aquela impressão de que a vida é algo tão estético.
só que a vida não é algo tão estético. não é só o arrebatamento diante do belo, mas acho que também deve ter algo a ver com a coerência com o bom. acho que não dá para se distanciar muito do que é certo. do que é algo básico. depois do dia 5 vai ser o dia 6, (a não ser que se mude a forma de contar os dias). a pessoa come não só porque é bom, mas porque o corpo precisa.
e o filme é tão poético. mas no final das contas ele serve para mostrar de uma forma quase racional porque aquela poesia é importante para a pessoa. é quase como se fosse possível fazer um esquema (embora não seja propriamente viável). mostra tantas referências a sua própria poesia que é quase possível ver a matéria com que ela é feita. é um filme tão poético que chega a ser racional. porque às vezes é preciso mais matemática na vida.
segunda-feira, novembro 07, 2005
às vezes é preciso ver a vida com menos poesia
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