David Lachapelle é um fotografo bem conhecido e bem hypado por causa da sua visão surreal e exagerada que empresta ao mundo da moda e da publicidade. Acontece que ele também curte dirigir videoclipes para uma gama bem variada de artistas que vão de The Vines a Mariah Carey, de Avril Lavigne a Whitney Houston, de Blink 182 a Elton John. Sei que um dia desses eu revi o clipe de Natural Blues, do Moby. Aí quando passou aquela cena da Christina Ricci dançando em cima da TV eu fiquei um bocado emocionado. Aí lembrei de outros clipes dele como o de Super Duper Love, da Joss Stone e I?m with you, da Avril Lavigne. Bom, esse último dá um novo sentido a imagens de adolescentes dançando em câmera-lenta e foi o responsável por eu finalmente assumir que gosto da Avril (mas isso é outra história). Como uma coisa leva à outra... fui procurar pelas fotos dele. Ele fez um monte de imagens que muita gente já deve ter visto, mesmo sem saber. Aí no site dele vi que tinha uma seção de PORTRAITS. Um monte de fotos de um monte de celebridades. Claro que eu fui logo ver as fotos das moças que povoam meu imaginário desde a década passada (inclusive a Natalie, claro). Foi aí que saquei que é graças a pessoas como Lachapelle que isso acontece. Essas pessoas que empurram imagens e mais imagens maravilhosas de gente mais ou menos maravilhosa que acabam de alguma forma fazendo parte de sua vida de uma forma bem freqüente. E, nas fotografias feitas por Lachapelle, estão essas mulheres emprestando suas presenças para a criação de um mundo colorido, estético, assimétrico e praticamente intangível. Ao mesmo tempo em que faz presente, afasta com a exuberância das cores e das formas. Ao mesmo tempo que capta um momento e transforma a realidade destrói qualquer possível legação com o ?real?. Não é como aquelas publicidades dos anos 50 em que mostravam a idealização de um padrão de vida que se pretendia real. Ele não busca mostrar o ideal, mas apenas o sonho e a impossibilidade. As fotos podem mostrar um mundo que escapa da realidade, mas não me sugere uma fuga. Acho que é mais o lance de me mostrar que não tem como fugir. O mundo que ele cria está só nas fotos.
também postei uma série de fotos dele no meu fotolog
domingo, setembro 24, 2006
o fantástico mundo de...
sexta-feira, setembro 22, 2006
E, então, eu vi o Tortoise
Foi na segunda noite do No Ar Coquetel Molotov 2006. Claro, antes rolaram outras coisas. E o festival esse ano trazia muitas atrações por dia, o que tornou tudo uma maratona cansativa. E Tortoise foi a última banda. E ao longo da noite parecia que a ficha não ia cair. Era uma expectativa grande para ver uma das bandas da minha vida, mas ao mesmo tudo isso não causava ansiedade... eu ia ver Tortoise e tudo bem. E eu vi Tortoise antes da maioria das pessoas. Quando cheguei ao Centro de Convenções da UFPE, pensei que chegaria já no meio da sessão dos curtas que Daniel e Juliano selecionaram em nome da Símio Filmes. No entanto, eu cheguei lá e a salinha ainda estava sendo arrumada com seus puffs e iluminação e sistema de som e os suquinhos que uma ruiva distribuía junto com outra garota que também dava chocolates. E chegou o momento que alguém precisava anunciar, via sistema de som, que ia começar a mostra. Aí surge Vivi dizendo que Jarmeson não estava por lá e que as meninas não gostam de fazer o tal anúncio e perguntou se eu poderia faze-lo. Claro, não ia ser nada demais e eu ainda tive a oportunidade de conhecer os bastidores do teatro. Nessa hora justamente o Tortoise passava o som.
Então teve a mostra de filmes com coisas bem legais tipo Meu nome é Paulo Leminski, Fast Film e Quero ser Jack White. Aí depois rolaram os shows. Hrönir trouxe uma apresentação que eu não sei bem explicar, mas conseguia criar climas interessantes e atingir freqüências difíceis de suportar. Debate eu não vi direito, porque a sala estava cheia e o som estava alto, depois da primeira música, saí e voltei justamente na última. Teve o Chambaril, com uma apresentação muito boa, mas que teve seus problemas com equipamento. Com direito a Costinha e onda do gueri gueri nas projeções. Aí começaram os shows no palco principal. Vi Barbis e Valv lá do balcão. A primeira tem lá sua graça, mas cansa por vezes. A segunda fez um show bem empolgado e o vocalista destacou varias a importância de estarem tocando numa estrutura como aquela. Móveis Colônias de Acaju foi um verdadeiro fenômeno de massa, tinha até gente com faixa na platéia, gente cantando as músicas, isso de uma banda que a exposição máxima na grande mídia foi uma aparição no MTV Banda Antes, a galera se instigou um bocado, eu achei bem legal, mas preferir apenas observar. E Rubin Steiner parecia ser bem mais legal do que realmente foi. A música do cara era interessante e ele tinha uma presença de palco boa, mas o show não chegou a deslanchar.
Então teve o Tortoise. Antes do começo do show todo mundo procurava os melhores lugares, começava um pouco de ansiedade. E aí o show começou tenso, porque algumas pessoas não sabiam se iam ver em pé ou se iam sentar. E as vezes parecia que um monte de gente só estava ali por estar. Mas já no final da segunda música dava para perceber que show fantástico todos estávamos vendo. Que os caras tocam muito, acho que dá pra sacar pelos discos, mas que o show deles é algo extremamente poderoso e dinâmico, só vendo mesmo pra perceber. Também vale destacar que o Tortoise consegue chamar a atenção de um leque enorme de gente. De doidão a mombojete, muita gente estava realmente interessada em ver os caras. E se a platéia não parecia estar respondendo ao show foi porque estava atenta. Os caras trocam de lugar no palco e de instrumento com freqüência e as vezes não dá para acreditar que estão fazendo tudo aquilo lá na frente. Um gravão potente provocava arrepios. E teve um momento em que tocaram uma das músicas mais belas dele ?I set my face on the hill side?... foda!
E depois que tudo acabou, voltar a realidade. Já era quase de manhã e mesmo sendo domingo, existem compromissos. Sei que acabei conhecendo algum dos caras do Tortoise e confirmei uma impressão que tinha deles, são pessoas que gostam de música, que gostam de conhecer outras coisas, que sabem a importância das composições, as deles inclusive, na vida das pessoas e por isso mesmo são pessoas bem normais. Fiquei feliz porque pude dizer a eles que eles precisavam ouvir Itamar Assumpção e porque descobri que Dan Bitney gosta de Roberto Carlos e é fascinado pelos teclados de Laffayette.
terça-feira, setembro 12, 2006
recompensa por ficar acordado
Sexta-feira, final de tarde, eu pego um ônibus (para desmistificar a história de que os shows acontecem em um lugar distante e de difícil acesso...) e, depois da viagem já bastante conhecida por mim, chego no campus da UFPE - estudei lá quatro anos e meio na graduação e mais dois no mestrado. O No Ar Coquetel Molotov cresceu, mas ainda é o mesmo festival, isso ficou claro com o primeiro show da Sala Cine UFPE: Tony da Gatorra. Sabe aquela coisa punk do "faça você mesmo" é o caso desse artista, porque ele fez até um instrumento, a tal gatorra que parece uma guitarra, mas faz sons que parecem saídos de um Atari enquanto Tony destila suas letras de protesto. O show terminou com uma jam muito legal com a participação de Kassin, que foi a segunda atração com seu projeto Artificial. Musica eletrônica tocada na hora com lap top, game boy e parafernálias do tipo, sozinho Kasin conseguiu fazer um show incrível e bem pesado. Depois veio Diversitrônica, que junta os produtores Zé Guilherme, Leo e William, e não é a toa que têm esse nome, é música eletrônica para se divertir. Já não é novidade que os shows da salinha acontecem junto com as projeções que esse ano ficaram a cargo da Símio Filmes, mais precisamente Juliano Dorneles e Daniel Aragão. Nesses dois últimos shows eles fizeram as projeções mais legais: para o Artificial eles fizeram a mais conceitual e integrada com a música, para o Diversitrônica encheram a tela de cheer leaders e mulheres dançando.
Aí, começando os shows no Teatro da UFPE, Ahlev de Bossa trouxe seu experimentalismo com belas melodias e a melhor jam session que eles já fizeram, com destaque para o trompetista, que eu nunca tinha visto tocar com eles. Acho uma das bandas mais interessantes daqui do Recife, porque conseguem ser experimentais sem serem herméticos. Precisam fazer mais shows para melhorar no palco, mas já é uma grande banda. Badminton veio depois e já era outro astral. Uma banda de rock clássica. E muito boa. Já são veteranos, mas só se apresentam esporadicamente. O show teve lá seus problemas de som, mas conseguiu ser massa mesmo assim.
A primeira atração internacional do festival: Spleen. Eu não conhecia quase nada, mas li uma matéria e saquei o quanto música era algo que fazia parte da vida dele. Imaginei que o show ia ser bom por causa disso. Aí começa o cara lá no banquinho e violão com uma voz bem legal depois entram outros instrumentos e o show vai crescendo aos poucos. Depois de algumas músicas, fica sozinho no palco um branquelo de óculos de aro grosso chamado Tez que começa um beat box insano. É nessa hora que as pessoas correm em direção ao palco, eu inclusive, e aí a banda volta e manda ver o riff de Beat It de Michael Jackson. Spleen dança com uma saia de bailarina. Desce do palco visivelmente entusiasmado com o show. Enfim, não sei dizer se foi Spleen que levantou o público ou se foi o público que transformou o show em pura catarse; provavelmente foi um troca.
Descrever o show do CocoRosie parece uma tarefa inútil. Foi mais intenso do que um show de música. O clima do show é propício para dormir, e isso não é maldade. Foram as próprias irmãs que compõem e cantam as músicas que disseram vir tudo através de sonhos. Elas são estranhas. O clima do show é etéreo. Projeções de vídeo misturando unicórnios com imagens ao mesmo tempo tão cotidianas e estranhas. E tudo praticamente escuro. Eu não tinha me empolgado com as músicas que tinha ouvido, mas o show é outra coisa. Foi uma das coisas mais bonitas que eu presenciei. Era preciso lutar contra o próprio clima, o avançado da hora e o cansaço para não perder nada. As duas cantam bem, foram acompanhadas pelo pessoal do Spleen, colocavam ruídos de animais sobre as músicas e teve até uns passinhos de break. E eu lá parado, sem conseguir piscar, sem me preocupar se aquilo era bom ou ruim, porque era muito intenso. Mas aí o sono me pegou mesmo no show de Júpiter Maçã, mas o público que tinha escolhido ele para ser uma das atrações do festival parecia mesmo se divertir lá na frente, enquanto eu estava indo embora, mas sem nenhum peso na consciência.
segunda-feira, setembro 11, 2006
porque eu preciso dizer isso (na verdade, acho que já devia ter dito)
Já faz um tempo que passou. E agora é só memória. Para quem gosta de saber das coisas no calor da hora, provavelmente esse texto é matéria fria. Mas eu preferi dar esse tempo para escrever sobre a última edição do festival No Ar Coquetel Molotov 2006, que aconteceu nos dois primeiros dias do nono mês do sexto ano do novo milênio (informação para quem curte datas). É válido começar dizendo que eu tenho uma certa ligação afetiva com o festival. Explico: eu conheço os organizadores do evento (Jarmeson, Aninha, Tathi e Vivi) a um bom tempo, já participai mais de uma vez do programa de rádio deles, e dei algumas contribuições à revista também; soube do festival quando ele ainda era um projeto. Além disso, o festival já tinha sido responsável por momentos no mínimo agradáveis - o Teenage Fanclub, o Profiterolis (o show da salinha), Berg Sans Nipple, Mellotrons (um show instigado, mesmo sendo no teatro) - e até momentos surreais - Matt Dillon em uma festa pós-festival. Enfim, esse ano saiu no jornal que o festival se solidificou no calendário anual de eventos culturais da cidade, mas ele já faz parte da minha vida desde o primeiro ano. Aí, para a edição 2006 eles aprontam uma e resolvem trazer o Tortoise (Tortoise, porra!!). Bom, basta dizer que Tortoise é uma das bandas da minha vida.
Logo de cara deu para perceber que o evento cresceu no quesito visibilidade: acho que não teria empresas promovendo suas marcas em um lugar que não tivesse tal atributo. E, num mundo onde raramente se separa cultura do mercado, isso é algo importante. Não era mais aquela reunião de amigos do primeiro ano, nem a curiosidade do segundo. Parecia mesmo um evento viável. Mas que manteve suas características básicas.