terça-feira, setembro 12, 2006

recompensa por ficar acordado

Sexta-feira, final de tarde, eu pego um ônibus (para desmistificar a história de que os shows acontecem em um lugar distante e de difícil acesso...) e, depois da viagem já bastante conhecida por mim, chego no campus da UFPE - estudei lá quatro anos e meio na graduação e mais dois no mestrado. O No Ar Coquetel Molotov cresceu, mas ainda é o mesmo festival, isso ficou claro com o primeiro show da Sala Cine UFPE: Tony da Gatorra. Sabe aquela coisa punk do "faça você mesmo" é o caso desse artista, porque ele fez até um instrumento, a tal gatorra que parece uma guitarra, mas faz sons que parecem saídos de um Atari enquanto Tony destila suas letras de protesto. O show terminou com uma jam muito legal com a participação de Kassin, que foi a segunda atração com seu projeto Artificial. Musica eletrônica tocada na hora com lap top, game boy e parafernálias do tipo, sozinho Kasin conseguiu fazer um show incrível e bem pesado. Depois veio Diversitrônica, que junta os produtores Zé Guilherme, Leo e William, e não é a toa que têm esse nome, é música eletrônica para se divertir. Já não é novidade que os shows da salinha acontecem junto com as projeções que esse ano ficaram a cargo da Símio Filmes, mais precisamente Juliano Dorneles e Daniel Aragão. Nesses dois últimos shows eles fizeram as projeções mais legais: para o Artificial eles fizeram a mais conceitual e integrada com a música, para o Diversitrônica encheram a tela de cheer leaders e mulheres dançando.

Aí, começando os shows no Teatro da UFPE, Ahlev de Bossa trouxe seu experimentalismo com belas melodias e a melhor jam session que eles já fizeram, com destaque para o trompetista, que eu nunca tinha visto tocar com eles. Acho uma das bandas mais interessantes daqui do Recife, porque conseguem ser experimentais sem serem herméticos. Precisam fazer mais shows para melhorar no palco, mas já é uma grande banda. Badminton veio depois e já era outro astral. Uma banda de rock clássica. E muito boa. Já são veteranos, mas só se apresentam esporadicamente. O show teve lá seus problemas de som, mas conseguiu ser massa mesmo assim.

A primeira atração internacional do festival: Spleen. Eu não conhecia quase nada, mas li uma matéria e saquei o quanto música era algo que fazia parte da vida dele. Imaginei que o show ia ser bom por causa disso. Aí começa o cara lá no banquinho e violão com uma voz bem legal depois entram outros instrumentos e o show vai crescendo aos poucos. Depois de algumas músicas, fica sozinho no palco um branquelo de óculos de aro grosso chamado Tez que começa um beat box insano. É nessa hora que as pessoas correm em direção ao palco, eu inclusive, e aí a banda volta e manda ver o riff de Beat It de Michael Jackson. Spleen dança com uma saia de bailarina. Desce do palco visivelmente entusiasmado com o show. Enfim, não sei dizer se foi Spleen que levantou o público ou se foi o público que transformou o show em pura catarse; provavelmente foi um troca.

Descrever o show do CocoRosie parece uma tarefa inútil. Foi mais intenso do que um show de música. O clima do show é propício para dormir, e isso não é maldade. Foram as próprias irmãs que compõem e cantam as músicas que disseram vir tudo através de sonhos. Elas são estranhas. O clima do show é etéreo. Projeções de vídeo misturando unicórnios com imagens ao mesmo tempo tão cotidianas e estranhas. E tudo praticamente escuro. Eu não tinha me empolgado com as músicas que tinha ouvido, mas o show é outra coisa. Foi uma das coisas mais bonitas que eu presenciei. Era preciso lutar contra o próprio clima, o avançado da hora e o cansaço para não perder nada. As duas cantam bem, foram acompanhadas pelo pessoal do Spleen, colocavam ruídos de animais sobre as músicas e teve até uns passinhos de break. E eu lá parado, sem conseguir piscar, sem me preocupar se aquilo era bom ou ruim, porque era muito intenso. Mas aí o sono me pegou mesmo no show de Júpiter Maçã, mas o público que tinha escolhido ele para ser uma das atrações do festival parecia mesmo se divertir lá na frente, enquanto eu estava indo embora, mas sem nenhum peso na consciência.

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