quarta-feira, outubro 23, 2002

A vida na superfície

Tem uma questão muito simples sobre a existência humana: vivemos na superfície. O ser humano não pode viver debaixo da terra nem aguenta grande profundidade marítimas. O que resta é a superfície. Dessa forma, fazendo uma analogia extremamente simplória, parece teimosia o desejo que as pessoas têm de serem profundas.

Ontem eu assisti um filme chamado Prova Final, que é extremamente óbvio e por isso mesmo vou logo revelando o final, a galega novata é a rainha dos aliens que querem dominar a cidade. E a questão aqui não são os méritos ou deméritos do filme (logo de início da pra sacar que o filme não é lá grande coisa, ou seja, é sincero; caso alguém esteja procurando isso, lamento dizer que é o mesmo que mandar o sapo voar: se ele não voa não é culpa dele). A questão aqui são as coisas óbvias que as pessoas fingem não ver pra dar-lhes um significado profundo. É preciso encarar a realidade, todos somos personagens sem nenhuma profundidade, extremamente caricatos. Pensar que só por sofrer se tornar um pessoa especial, profunda, cheia de conflitos é um consolo incrível, mas é só isso. As pessoas esquecem que vêem as outras como personagens, e também são vistas como tais. Se são multifacetados, se tomam atitudes impressionantes, tudo faz parte do mesmo espetáculo. Eu duvido da pessoa que não consiga se definir em uma frase. Porque isso é que diz tudo, a profundidade, que pode até existir, só faz sentido num ambiente extremamente pessoal, praticamente solitário. Na vida social somos só esses personagens caricatos. Ao menos cada um pode fazer sua própria caricatura, o que torna a vida um pouco mais irônica.

A única pessoa que sabia os desejos escondido no lado escuro do coração humano era O Sombra, um personagem caricato.

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