Ter aquela certeza de que a gente vai estar para sempre só não é algo assim tão comum. Temos normalmente a impressão de que não, de que existem pessoas por perto, tem sempre alguém com quem contar, basta olhar ao redor. No entanto, existem eventos que nos mostram magicamente nossa solidão. Que vão dar a certeza de que, sim, está-se sempre só. Esta certeza não dura tanto. Dura apenas até a ilusão de que é possível não estar só volta. E ela volta, justamente, porque não queremos estar sós. Buscamos respaldo, companheirismo, compreensão, solidariedade, compaixão... Talvez porque não seja legal estar sozinho...
Em uma cena de Conta comigo (e falo de cinema porque acho que é uma das poucas coisas de que sei falar), o personagem fala de um evento que ele guarda para ele e só conta anos depois quando está escrevendo um livro sobre a infância. Ele está pegando água num riacho e aparece um alce ao seu lado. Aí o personagem explica que não quis comentar aquilo com os amigos, seria uma experiência que seria só dele. Talvez ele tenha feito isso por causa dessa visão de que não era nada demais: o que tem de fantástico um alce vir beber água do seu lado? (Grandes merdas). Mas se foi uma experiência solitária, que significou tanto para ele, porque ele teria que se explicar? E ele não se explica, ele apenas menciona, e, se alguém captar, bom, se não, paciência.
Um evento deixou bem claro como estou só nesse mundo. Não digo isso resignado, nem triste, nem mórbido... digo as coisas como realmente as vejo. Não acho necessariamente bom estar só, mas não é necessariamente ruim. Talvez antes eu pensasse que precisava de alguém que pudesse me tirar dessa solidão. Agora sei, tendo uma pessoa que está quase sempre por perto (e estando feliz por isso), que esse alguém não existe.
Sim, eu gostei do filme. Gostei e não sinto necessidade de explicar a razão. Pelo simples fato de que foi uma dessas experiências solitárias que eu não espero que alguém venha a entender. Mesmo que alguém tenha gostado, com certeza não foi pelos mesmos motivos.
Talvez, se o sujeitinho do alce lá do segundo parágrafo, não estivesse só (e se alguém aí disser que ele não estava só porque havia o alce, por favor, feche essa janela ou vá para outra página, pois não tenho como argumentar quanto a isso) alguém pudesse espantar o alce, ou fazer alguma piada cretina. E se ele tivesse contado para alguém talvez o convencessem de que aquilo era uma tremenda vontade. E da mesma forma que às vezes gostamos de nos iludir que não estamos sós, às vezes achamos bom pensar que algo banal é uma acontecimento incrível.
Podem me dizer o que disserem sobre o filme, e acho que podem encontrar argumentos bastante eficientes para provar que é uma bobagem. Eu não me importo, pois estou disposto a continuar sozinho. Eu entendo uma pessoa achar que é uma porcaria, mesmo sem concordar, porque respeito a sua solidão.
No momento em que escrevo, estou vendo aqui do lado A invenção da solidão e talvez essa solidão seja mesmo inventada. Mas ele fala dessas experiências que poderiam ser fantásticas para alguém, mas são coisas que simplesmente acontecem, e, por outro lado, parecem ser coisas que simplesmente acontecem, mas continuam sendo especiais para alguém.
O filme em questão é It’s all about love.
** Não seria correto pensarem que acho não valer a pena discutir e mostrar argumentos sobre o que for. Nada como uma boa discussão. Vai da disposição de quem está discutindo.
quarta-feira, dezembro 17, 2003
segunda-feira, dezembro 15, 2003
sábado, novembro 29, 2003
domingo, novembro 02, 2003
Andando por outros mapas com algumas ruas com o mesmo nome e lugares que lembram outros já conhecidos... Muitas coisas para fazer e nem saber por onde começar... aí tem a parte que a diversão vira obrigação... e o momento em que todo o esforço vale muito a pena... oh yeah! you're pretty good looking for a girl. E há quando o dever é a diversão, ou simplesmente a impossibilidade de não estar lá... Turn it up! Bring the noise!... e aquela oportunidade de ver uma coisa única de novo... e a frustração de não ver o cara que já tocou com o santo quando ele está praticamente do lado...
E aí... obladiobladá
segunda-feira, outubro 20, 2003
Já percebeu os lugares por onde tem andado? Sabe todos os caminhos que faz? Às vezes, não dá a impressão que está preso dentro de mapas? Se quiser passar onde está aquele muro, como faz? Então?
E vai por aqui, e entra aqui, e pega aquele retorno lá na frente... Ah! De ônibus? Desce nessa parada que fica mais ou menos aqui, aí segue andando por aqui, e por vir por aqui mesmo que dá para passar a pé - tipo um atalho, um prêmio para quem vem caminhando. Alguma compensação tinha que ter, né?
E sabe, sábado à noite. A gente anda em círculos. Vai de lá pra cá e não sai do canto. Caminhando no céu. Caminhando no céu. Caminhando no céu. Caminhando no céu. Caminhando no céu. Caminhando no céu. Aí já é domingo. Mas já era a muito tempo só que você nota porque tem que voltar para casa. Tempo também é deslocamento. O caminho de volta para casa é um indicador de tempo. Mas você já sabe como voltar, né? Vai por aqui e... vai... aí chega.
segunda-feira, outubro 13, 2003
Comprei uma salada para viagem. E uma pequena porção de arroz. Tinha molho na geladeira e ainda estava fechado. Ficou bom com a salada. O arroz deu um probleminha na hora de esquentar, mas foi contornado. Não parecia haver mistério. Não parecia haver intenção. Não parecia haver fome. Não parecia haver graça. Comer olhando para os azuleijos da cozinha. O momento serviu de um bom tempero. Só que não significa nada. E está perdido em algum lugar de onde nunca vai ser resgatado.
domingo, setembro 28, 2003
Porque ela tinha ido embora ninguém nunca soube. O fato é que ele reagiu de uma forma que ninguém achou que seria possível. Parecia não se importar e continuou vivendo. Talvez um pouco mais frio. Talvez um pouco mais irônico. Mas pode ser dessas impressões tiradas pelas conjecturas.
Então ele prosperou. Ficou rico com postos de gasolina. Para alguns era a conseqüência de ela ter ido embora; sem ter muito com o que se ocupar pôde se concentrar nos objetivos e metas. Outros diziam que aquilo fora a causa uma vez que era fruto de algum negócio escuso com o qual ela nunca concordou.
Daí ele morreu. Ela foi ao seu velório. E os comentários a respeito não foram poucos. Mas o que tinha de tão interessante nesta história para todos tentarem descobrir o segredo? Eu nunca soube o casal que eles foram. Talvez chamassem muita atenção. Talvez pela misteriosa partida dela ou pelo dinheiro que ele juntou depois. Era o tipo de coisa sobre a qual as pessoas precisavam pensar.
Quão desapontados todos ficariam se soubessem que o tal mistério era eu?
terça-feira, setembro 23, 2003
quarta-feira, setembro 17, 2003
Realmente Amarelo Manga é um bom filme. Realmente também é um filme superestimado (pode se pôr a culpa disso numa tradição pernambucana). Mas tudo em seu tempo. Logo de cara o filme mostra o quão Texas Hotel, curta que se passa no mesmo universo, era desnecessário (e vale lembrar que também foi superestimado na época). Esse comentário e desnecessário, mas faz parte de um projeto ideológico que procura debater qual a utilidade de um curta-metragem (definitivamente, não deveria ser um "trailer").
Amarelo Manga busca retratar a vida de personagens marginalizados (acho estranho o emprego desse termo sem citar a margem de quê, mas é basicamente isso) que vivem tanto no centro do Recife como no subúrbio. O filme faz bem isso, menos por utilizar a posição social como uma bandeira do que em criar personagens interessantes. O dono do Texas Hotel - uma espelunca caindo aos pedaços no centro esquecido de uma cidade que se orgulha de suas "revitalizações" urbanísticas -, seu cozinheiro homossexual (viado mesmo), uma prostituta velha e um traficante necrófilo, a dona de um bar, um peão de matadouro e sua esposa crente, uma comerciante de algum mercado público, um padre de uma igreja abandonada (imagem muito bem sacada) são as figuras que povoam o universo da trama que se desenrola em um dia. Os ambientes foram escolhidos para ressaltar uma cidade que talvez nem todos reconheçam, mas que deve fazer parte da vivência de pessoas como estas. Também merece elogios a utilização do elemento comida. Desde o abate do boi até a feitura da carne; seja uma dona de casa preparando uma refeição para o marido, seja cozinhar para um batalhão, sejam os pê-efes baratos, as porcarias do meio da rua ou as frutas virando bagaço, o filme parece ser conduzido pelo verbo comer. E beber também. E foder, nesse caso usa-se o sentido sexual e o sentido da violência, que nunca estão necessariamente juntos ou separados.
Tudo acontece em um dia, e a vida continua no outro. É basicamente isso que o filme mostra. E é essa inércia que move os personagens, uma incapacidade de fazer as coisas funcionarem (e parecem que elas funcionam sozinhas). Mesmo quando se cria uma intriga, quando se tenta agarrar alguém a força, quando se expulsa o cliente do bar ou quando se decide pintar o cabelo e manda todo mundo tomar no cu, existe algo que escapole sempre do controle: a macro-política, a situação econômica, a vida...
O filme tem seus excessos. Cenas que nada acrescentam e momentos em que se pretende chocar ingenuamente. E durante o filme parece que um elemento foi estrategicamente excluído daquele universo marginal. Faz-se parecer que a cidade, a sociedade, é feita só por aqueles marginais. Aquela classe média que não vive tão distante dos locais que o filme centra a ação, a mesma classe média que é movida por um fascínio pelo outro e uma preocupação social aparentemente esta fora da ação, marginalizada em relação ao filme. Nada daquele espírito esquerdista que busca o olhar do excluído para entender a sociedade, nada dos estudantes universitários que vão fazer etnografia em qualquer birosca, os adolescentes que buscam o morro para se gabar de conhecer a periferia. Mas o filme é ele próprio esse elemento. É esse o significado que escapa nas cenas em que mostram pessoas "do povo" paradas diante das câmeras, com a intenção de mostrar a imobilidade e a inércia citada anteriormente (como se fosse a resposta no verso de uma charada), mas que deixa clara uma visão externa (de classe média, dos artistas, da intelectualidade, ou seja lá o que for).
O diretor do filme falou da sua intenção de passar o filme no Cinema do Parque (a um real), no intuito que o povo pudesse ir ver. Na saída da sessão em que pude apreciar o filme (cheguei atrasado por isso não notei antes da sessão), não se via, entre a platéia, as pessoas que o filme retrata, pelo menos não de uma forma expressiva.
terça-feira, setembro 16, 2003
=melhores "elas que mandam" em filmes=
Natalie Portman fala pro carinha que toca trompete fazer um strip pra ela.
Anna Paquin, Fairuza Balk e Bijou Phillips defloram Patrick Fugit
Holly Hunter tira a roupa de Sam Neil
Também gosto daquela parte que Thora Birch tira o sutiã na janela, mas não é exatamente a mesma coisa.
nada de interessante para escrever
quarta-feira, setembro 10, 2003
Não conseguia domir. A saída foi ler Zizek. E, não se sabe como o sono veio. Mas não uma maneira abrupta. Livro do lado, alguns pensamentos organizados e dormir. Até bem tarde no outro dia.
Talvez seja isso: problemas da Latinoamerica, sonho indiano em Nova Iorque (assim mesmo, escrito em português), garota da Romênia e um psicanalista esloveno.
.:Perdi os fios:.
domingo, setembro 07, 2003
::sugar, spice and everything nice::
A todas as pessoas que não podem ser de verdade pelo simples fato de que eu não consigo distinguir um filme de Ken Loach e de um filme de Tim Burton.
Um filme de Goddard e um filme de David Lynch. Um filme de Spielberg de um filme de Von Trier. E um filme de Weles de tudo que existe em volta.
domingo, agosto 31, 2003
Sobre uma folha de papel em branco...
... e todas as coisas que nela poderiam estar. Cartas, tratados, receitas médicas, artigos, notícias, recados, contos, primeiras páginas de romances, rascunhos, poemas, desenhos, projetos, também poderia ser um origami, uma bola jogada contra alguém, podia cair no chão e alguém pisar, aí teria uma pegada. Tudo isso esperando um ato de violência que muda a natureza de uma simples folha de papel em branco, que não significa nada, mas pode significar tudo. Quando se para em frente de uma folha de papel sem saber o que fazer, o que ela quer dizer? Por que tortura tanto? Tantas possibilidades, tantas escolhas possíveis, e isso paralisa.
Sobre tudo que poderia ser... mas depende de uma escolha que exclui tantas outras coisas.
sábado, agosto 30, 2003
segunda-feira, agosto 25, 2003
Na nova edição do Dicionário Oxford tem uma nova definição para o verbete 'brazilian'. Brazilian, segundo a ampliação, significa um estilo de depilação dos pelos pubianos femininos no qual só uma pequena faixa de pelos é deixada no centro. Acho que diz muito sobre ser brasileiro. Se alguém aí estiver com uma crise de identidade nacional acho que o conceituado dicionário inglês possa ter alguma relevância para por fim nisso. O dicionário mantém a definição mais tradicional de que brasileiro é algo ou alguém natural do Brasil. Como brasileiro você pode escolher entre uma ou outra, dependendo da conveniência. Isso é que é identidade fragmentada.
Eu saí de casa e fui ver um filme que tinha quase certeza que não seria grande coisa. E estava certo. A festa que nunca termina fala sobre Manchester e sobre as bandas de lá... tem uns toques de humor sobre conhecimento pop e um monte de piadas (a maioria interna), acho que é o típico filme "regional". Lembra de Conceição, aquele curta que mostra o Recife e tem um taxista falando coisas filosóficas como "se Deus fosse colocar um piercing no mundo, ele colocaria no Recife... o Recife é imbigo (sic) do mundo" aí depois aparecia um monte de ilustres desconhecidos da "cena" recifense. O filme inglês me deu essa sensação... só que no caso estamos falando de um movimento musical muito mais intenso e com mais repercussão mundo afora do que o Recife pensou um dia em ter.
Reflexões: o carinha lá, a certa altura, diz que está tentando ser pós-moderno antes que vire moda. Quando eu comecei a tomar contato com Jameson, Baudrillard, Berman e etc, esse papo de PM já era uma piada acadêmica. Mas parece que ainda tem graça, a ponto de estar num filme de humor. Ian Curtis se enforca aos 24 anos, tem uma frase dele dizendo que Bowie é impostor e que se Yeats tivesse morrido aos 25, ele (Curtis) teria ouvido falar do tal poeta. Vou fazer 26 daqui a poucos meses, ainda tenho algum tempo.
sexta-feira, agosto 22, 2003
quinta-feira, agosto 14, 2003
Tem duas pessoas com quem eu me importo muito. Uma mora longe, eu vejo uma vez no ano. A gente sempre foi distante. Começamos a trocar e-mails, mas ela parou de responder. A outra mora na minha casa, eu vejo o seu problema que me deixa muito preocupado, mas eu não consigo lhe dizer nada. Nunca disse antes, talvez ele achasse estranho de eu dizer agora.
domingo, agosto 10, 2003
Poxa! Não é bem isso exatamente. Talvez se eu soubesse explicar eu não precisasse fazer. Não é isso que as pessoas fazem? Elas tentam racionalizar uma coisa pra depois não precisarem fazer... tipo tanto faz se elas fazem ou não. A coisa meio que já existe, sabe? Tá. Vou tentar explicar melhor... Não... Eu não consigo explicar melhor. Mas é tipo quando você precisa de um exemplo para expor algo. Se você já tivesse exposto esse algo de uma forma racional e clara, não precisaria do exemplo. Eu sei, pô. Os exemplos podem ser legais. Não estou dizendo que são perda de tempo... Mas num caso, digamos, ideal como este, não faria diferença o exemplo. Concorda? O louco é que tem certas coisas que não têm um exemplo concreto. Aí você torce para que as pessoas façam o mesmo percurso que você pra que possam entender exatamente a questão...
Ah! Esquece! Não. Tudo bem. Esquece, pô. Eu não vou saber explicar. E você não vai entender. Não!! Culpa minha de não saber explica. E seria culpa minha também de esperar que você pudesse ter uma compreensão desse tipo. Porra! Não. A maioria das pessoas não têm. Aliás, eu nem cheguei a conhecer alguém que tivesse. Por isso, relaxa.
Tem uma coisa. Vou pegar aqui para você ver. Tá aqui:
Existe ainda a tentação oposta e equivalente de olha para o mundo como se fosse uma extensão do imaginário. Isso algumas vezes também aconteceu a A., mas ele recusa a aceitá-lo como solução válida. Assim como todo mundo ele busca um sentido. Como todo mundo, sua vida é tão fragmentada que, toda vez que vê uma ligação entre dois fragmentos, fica tentado a procurar um sentido nessa ligação. A ligação existe. Mas lhe dar um sentido, olhar além do mero fato de sua existência, seria construir um mundo imaginário dentro do mundo real, e A. sabe que isso não se sustentaria. Em seus momentos mais corajosos, ele adota a ausência de sentido como o princípio primordial, e depois compreende que sua obrigação é ver o que está à sua frente (embora esteja também dentro dele) e dizer o que vê. Está em seu quarto na rua Varick. Sua vida não tem nenhum sentido. O livro que escreve não tem nenhum sentido. Existe o mundo, e existem as coisas que a pessoa encontra no mundo, e falar sobre elas é estar no mundo. Uma chave quebra dentro da fechadura e alguma coisa aconteceu. Ou seja, uma chave quebrou dentro da fechadura. O mesmo piano parece existir em dois lugares diferentes. Um jovem, vinte anos depois, acaba morando no mesmo quarto onde seu pai enfrentou o horror da solidão. Um homem encontra seu antigo amor em uma rua de uma cidade estrangeira. Isso só significa aquilo que é. Nada mais, nada menos. Depois, ele escreve, como na frase: "ele escreveu O Livro da Memória neste quarto".
É incrível. Tanta coisa e cada uma desperta sensações diferentes em cada um. Mas no fundo, dá no mesmo. Acho que por isso identificar-se não é algo assim tão difícil de acontecer. Ok. Eu digo isso por mim.
domingo, agosto 03, 2003
- Para se dar bem na arte de trocar os amigos você tem que se preocupar com algumas coisas básicas.
- Você está falando sério?
- Ué! Claro! Pode ser muito útil em algum momento da sua vida.
- Eu, hein!
- Primeiro passo: sabe aquele ditado que diz pra nunca contratar alguém que não possa demitir? Você faz o mesmo que as amizades. Nunca fique amigo de alguém que não vai poder mandar embora da sua vida depois. O princípio básico é procurar pessoas que possam ser facilmente substituíveis.
- Você só pode ser maluco. Qual a finalidade disso? Isso é algum tipo de indireta?
(pausa dramática)
- Não. (outra pausa dramática) Você é insubstituível...
- Ah!
- Então você não é muito bom nisso...
- É... pensei que fosse. A culpa deve ser sua.
- Não adianta. Você não consegue fazer essa pose de cara durão. Você não é tão insensível quanto quer parecer.
- Mas... péra. Toda regra tem uma exceção, né? Então você vai ser a exceção, ok? Satisfeita?
- Não. Você sabe que não é assim. Porra, quando você conhece uma pessoa... você acaba aceitando certas coisas... mesmo que seja inconsciente... Quando se torna amigo de uma pessoa você acaba aceitando, mesmo que não saiba, todas as complicações... Não é fácil assim. Como saber o que a pessoa vai trazer pra sua vida? Como saber que vai poder substituí-la?
- Ah! Qual é? Vai dizer que todo mundo é insubstituível.
- Não. Acho que a princípio tem gente que é substituível. Mas isso não é uma ciência exata.
- Ah! Não fala merda. Você nem sabe o que é uma ciência exata...
- É. Você tem razão.
terça-feira, julho 22, 2003
Eu devo mesmo ser um sujeito estranho. Tem uma coisa chamada monomania que é basicamente a tendência da pessoa ficar pensando unicamente sobre um assunto durante muito tempo. Isso acontece comigo com certa freqüência. Os resultados a que isso levam podem ser engraçados como muito graves, pode ser que eu consiga desenvolver uma linha de raciocínio suficientemente lógica sobre uma coisa ou que crie as correlações mais esdrúxulas. O pior é que, muitas vezes, os temas em que me prendo não são nada objetivos. Houve ocasiões que eu consegui dar uma saída criativa pra esse problema e acabei realizando um feito importante. Um exemplo disso – e o único recordado nesse momento – foi meu projeto experimental sobre filmes adolescentes. Eu não conseguia, na época, não prestar atenção nesse tipo de filmes, principalmente por causa de umas atrizes. Elas são, a saber, Claire Danes, Christina Ricci, Anna Paquin e Natalie Portman. A minha sorte, creio eu, foi o fato de ter acontecido junto com o fenômeno de exposição na mídia de Leonardo DiCaprio, dando-me assim um objeto relevante para estudar os tais filmes adolescentes.
Pois bem, hoje, em que estou estudando muito sobre imagem e lendo quase tudo de Estudos Culturais, não consigo evitar de querer usar isso tudo para analisa o T.A.T.U. – é aquela dupla de cantoras russas que formam um casal lésbico. Mas, no caso, e ao meu ver, música é o que menos importa no trabalho do t.A.T.u. (não sei como é a grafia, sei que tem letras maiúsculas e minúsculas). As atenções se voltam para a questão de valores e identidades – e todas as oportunidades trazidas pelo mercado a partir daí – com os quais esse projeto (desculpem, mas não consigo não ver a banda como uma armação – muita bem sacada, por sinal – de algum produtor com algum talento e muita cara-de-pau) mexe. Pra começo de conversa, são duas ninfetas que sempre aparecem em poses provocantes deixando bem claro o lesbianismo, são russas. É, uma delas é ruiva também, mais isso pode ser meramente uma questão de gosto pessoal.
Garotinhas bonitas e sensuais, vindas do leste europeu, cantando música pop enquanto fazem alusões bastante claras e diretas ao lesbianismo. Sim, inserem o tema, talvez, ainda espinhoso do homossexualismo, mas como o fazem? Apelam para artifícios muito caros à cultura pop ocidental. Que a beleza adolescente está em alta não é novidade e tem um monte de campanhas e editoriais de moda para atestar. São russas, não mais da velha inimiga vermelha, mostram um sopro de cosmopolitismo em um país que tentou se isolar durante longas décadas. Trazem também um certo exotismo por virem de uma parte da Europa que não é bem a Europa. Vale lembrar o fetiche masculino com relação ao homossexualismo feminino. Por fim, ser – ou parecer - transgressor e rebelde ainda é uma das bases da cultura adolescente, e isto vem sendo potencializado à medida que as coisas vão perdendo o real caráter de transgressão e rebeldia.
Outra parte da minha análise vem de um clipe do T.a.T.U. para a música “All the thing she said” (popizinho pegajoso, mas pareceu-me bem dançante). No tal clipe a meninas aparecem vestidas de colegiais (sugestivo, não?) em baixo de uma chuva torrencial. A marcação é basicamente a mesma durante todo o clipe: elas aparecem em frente a um muro e na frente delas está uma pequena multidão de pessoas; separando a multidão das russinhas tem um elemento bastante sugestivo que muda de acordo com as tomadas, embora pareçam ter o mesmo significado, uma ora é uma cerca de alambrado e ora é uma grade com barras de ferro. Durante todos os clipes as meninas andam de um lado para o outro passando em frente às pessoas que as observam através das barras de ferro ou da cerca. As pessoas ficam passivas assistindo a angustia das duas meninas que parecem estar incomodadas com a grade (em momentos elas balançam a grade com aparente intenção de quererem se soltar). Fica logo claro que se trata de uma multidão observando o relacionamento de duas garotinhas lésbicas (inevitavelmente tem cenas insinuantes e um beijo entre as duas) que parecem não ter para onde ir – pois o muro atrás deles parece ser bastante opressor e a grade na frente não deixa que elas se misturem com o resto das pessoas. No momento em que a música acaba – como se o show também acabasse – para de chover e as duas se dirigem para uma parte que até então não havia aparecido. O muro termina e abre-se um enorme descampado por onde as duas caminham se distanciando para longe das pessoas, que agora parecem estar presas, pois continuam imóveis. Acho que daria para chegar a algumas conclusões, mas prefiro dizer que quando me dei conta de que estava vendo esse clipe me senti no lugar das pessoas passivas atrás da grade e isso me incomodou muito.
domingo, julho 20, 2003
É, eles lançam um disco novo e parece que todo mundo começa a falar deles. Realmente deve ter algo relevante no que eles fazem. Tipo, eu nem posso falar sobre o Hail to the thief porque eu nem escutei o disco propriamente. Eu baixei as músicas pela internet, mas numa mixagem que não era a final. Da versão que foi lançada em disco eu escuei There There, na verdade eu vi o clipe e acredito que deva ser a versão do disco. O que acho engraçado sobre estar no mundo no momento em que o Radiohead lança esses discos é que eu posso ver como música pop - e não posso falar de uma forma mais abrangente pois não conheço o suficiente de música erudita, principalmente da produção contemporânea - é algo difícil de se analisar porque mexe com outras coisas que vão alem da música, coisas que vão até mesmo além da arte. Dos discos realmente importantes para a música (e me refiro essencialmente à música e às formas como elas podem ser criadas e interpretadas) que o pop foi capaz de oferecer, não lembro de nenhum que tenha sido lançado desde que eu me entendo por gente além do Kid A e do Amnesiac.
Sgt Peppers, Pet Sounds, Bitches Brew, Tago Mago, Autobahn, Free Jazz (desculpem-me a obviedade obtusa), todos esses discos chegaram para mim sem o calor do momento em que foram lançados, já depois de inúmeras discussões e algumas 'conclusões' a respeito da contruibuição deles para a música ocidental da segunda metade do século XX. Claro, ainda têm a capacidade de chocar, de emocionar e causar afeto que tinham antes. No caso dos dois discos do Radiohead eu pude presenciar todo o fervor que o disco causou. Radiohead já era uma banda consagrada, já tinha inúmeros fãs e já tinham mudado a vida de muita gente. Sei que com os outros artistas também foi dessa forma, mas sei porque alguém me disse. Presenciando isso com o Radiohead eu precebo como música pop também é uma questão de paixão, é algo que realmente faz parte da vida das pessoas, e muitas deles nem estão aí para o que realmente é a música, num sentido mais específico de uma forma de expressão com séculos de história.
Quando o Kid A foi lançado muita gente estranhou, alguns o destestaram de cara, outros caíram de amores na primeira audição. E isso faz sentido, todo sentido: espera-se pelo novo disco do Radiohead da mesma forma que tem gente que espera pelas novas coleções de varão das marcas famosos ou outros esperam pelo novo modelo de BMW. É natural reações tão apaixonadas. Mas, depois que as paixões passam, o que fica? Eu estranhei o Kid A quando o escutei, cheguei até a rejeitá-lo por um tempo, aos poucos, acho, acabei acordando para a complexidade das músicas e aceitando o clima que era construído por elas. Daí para aceitar o Amnesiac foi bem mais fácil. Mas para mim foi preciso entender a ação consciente dos integrantes da banda em ir além dos limites da música. Talvez hoje seja fácil dizer isso, fácil demais. O disco já é também uma dequelas obviedades obtusas. Mas eu não estou preocupado em analisar os discos, até porque eu não sou crítico musical e tenho pouco conhecimento sobre música. É mais o lance dessa passagem da impressão apaixonada para uma constatação mais profunda sobre o que é realmente o disco, sabe? Se isso leva tempo ou não vai da aptidão de cada um. Tipo, por mais que demore, acho que é importante pensar racionalmente nos objetos das nossas paixões. Claro, que não de uma forma fria, mas de uma forma consciente.
Sei lá, eu só tô falando isso porque eu vi um show do Radiohead que passou na MTV, e foi super bem filmado, e é interessante ver os caras tocando num palco e pessoas gritando, cantando e dançando, simplesmente curtindo a música dos caras. Claro que eu queria ter estado lá, claro que eu tenho vontade de ver Radiohead tocando ao vivo, claro que eu quero simplesmente me deixar levar por tudo isso. Mas, depois que passa, alguma coisa tem que ficar...
quarta-feira, julho 16, 2003
Mas eu gostei do filme exatamente por isso. Reconheço que a seqüência do deserto é meio longa. Mas tirando isso, e talvez os três atores principais que não são lá muito carismáticos - embora isso não seja tão relevante pro filme, seria legal que fossem, mas não é crucial. Bom, tirando isso, foi um dos melhores filmes de heróis que eu já vi. Não, não sou muito fã de quadrinhos, não que ache ruim, mas simplesmente não vou atrás. O contato anterior com Hulk tinha sido na série de TV - que talvez tenha virado a imagem básica do Hulk para a grande maioria e por isso muita gente estranha aquela coisa de 4,5. Mas a questão não é simplesmente comparar, é, antes, ver como o diretor recria o personagem e como ele usa isso no desenvolvimento do filme. Não sei. Eu conversei com dois fãs dos quadrinhos e eles acharam que eram fiel. Um deles concordou comigo que o cara conseguiu fazer um filme autoral em cima de uma temática pop e acrescentou que fez isso sem mudar muito a premissa do personagem, como Tim Burton fez de Batman um filme autoral, mas dando ao personagem uma visão muito pessoal que chateou muita gente. Falar nisso, Tim Burton foi também alvo de outra comparação, e mais injusta, com a refilmagem de Planeta dos Macacos. Ele quis reinventar a história e todo mundo ficou puto da vida porque o filme tinha pouca coisa do original, como se a gente devesse ficar eternamente fazendo críticas à corrida nuclear, como se ele não pudesse representar no filme uma questão que em todos os filmes dele está presente, que é o lance de ser estranho numa sociedade "normalizada". E o cara dá contornos políticos e faz referências a conflitos étnicos e faz um filme extremamente irônico pelo fato de ser um filme de estúdio, só que o máximo que dizem é que a versão original é melhor. A princípio são dois filmes que nem deveriam ser comparados dessa forma, pois o primeiro segue a linha da ficção científica e o segundo é uma aventura fantástica. Tá, pode vir fazer demonstrações físicas e provar que a história do filme é impossível de acontecer, quando na verdade o filme cria uma lógica que a torna verossímel... Pode vir com Newton que eu saco Umberto Eco. Por isso acho que nunca vamos poder discutir algo nesse sentido. O lance dos paradigmas é muito diferente e tal... Mas se quer saber, aquela cena já no final de Hulk que o filho e o pai ficam frente a frente sentados com o exercito observando, tem uma construção muito complexa e é uma das mais intensas... acontece que pode ser conversa demais pra um filme de ação... só que eu não achei Hulk um filme de ação... pelo menos não como se costuma fazer.
sábado, julho 05, 2003
Isso mesmo. E é bem legal mesmo. Sei lá. Às vezes você pode pensar que tem umas coisas desnecessárias que eles só colocam junto pra agregar valor e tal. Mas se você observar, claro que com um pouco de boa vontade, você vai ver que é bem interessante. Por exemplo, no de As virgens suicidas tem um making of que mais parece um desses vídeos caseiros sobre algum feito, umas férias ou uma temporada em algum lugar. É extremamente familiar, o documentário. Coppola e a mulher dele falando sobre a primeira experiência da filha, depois aparece um primo de Sophia que participa do filme. O irmão Roman também está lá pra ajudar. Aí James Woods aparece falando que adorou estar no set com Sophia, e que já ter trabalhado com o pai dela torna tudo mais especial ou algo assim. Scott Glenn fala algo parecido, que conhecia a diretora desde criança. Depois aparece Jeffrey Eugenides conversando com ela, depois fazendo piada com a peruca de Josh Hartnett. Kirsten Dust faz uma declaração sobre como é trabalhar com Sophia. No fim, fica aquela impressão de "Sophia Coppola, a garota talentosa, determinada e persistente". Claro que o fato do pai dela ser considerado um dos grandes cineastas dos EUA deve ter sua importância... Tudo bem, você pode perguntar: e o que isso vai contribuir para o produto final do filme? O documentário não chega nem a ser didático, para no caso de alguém querer saber como se faz um filme daqueles. Mas, pô. É um filme sobre família, de certa forma. Claro que a família da menina que vemos no documentário é bem diferente, o oposto, da família das meninas que vemos no filme. E a forma como a menina do documentário consegue lidar com os outros e os outros lidarem com ela é bem mais simples e menos doentia, talvez com a relação que os meninos têm com as meninas do filme. Tem essas coisas que você pode ver assim ou de outras formas. Não faria falta, é verdade, mas eu gostei de ter visto.
Só que o que eu acho mais excitante em DVDs é a possibilidade de ver o filme dublado em outras línguas. Tem em espanhol e em português ou um dos dois normalmente. Não sei se em outros têm outras opções. Em português talvez seja banal para quem já viu filmes em TVs abertas. Até a adolescência eu só via filmes dublados na Tv e muitos eu só tive oportunidade de ver dessa forma. Claro que não é a mesma coisa de ver com o som original, até porque normalmente a qualidade da dublagem é muito ruim. Mas acredito que não é muito diferente de ler um livro traduzido. Talvez por a gente ver tanto filme estrangeiro desde sempre, a gente não note que só o fato de vermos um filme que se passa em uma outra parte do mundo já deveria demandar uma "tradução". É algo que supostamente deveria estar distante da realidade da gente, mas não é o que acontece, porque os signos sempre estiveram presentes na nossa vida. Claro que a gente deve entender o código de uma forma um pouco diferente, mas o fato que não é isso que impede que a gente assista á um filme como Taxi Driver, por exemplo. Quando eu vi esse filme, e foi Globo, dublado, eu ainda era criança, de certa forma aquelas visões de Nova Iorque criaram na minha cabeça uma referência do que era uma cidade estrangeira, mas todo mundo falava português mesmo, e o cara era um motorista de Táxi como um monte que eu via nas ruas, só que ao mesmo tempo era diferente. Isso deveria ser muito estranho pra mim, mas não era. Claro que eu não devia ver aquele filme, pois é muito violento, mas o fato de ser uma realidade que eu nunca presenciei de fato, in loco (e mesmo que vá lá hoje não vou presenciar, certamente), não causava nenhuma confusão pra mim. Filmes eram feitos longe mesmo. E era alguém me mostrando como pessoas de longe viviam e o que elas faziam. Acho que foi mais estranho ter visto o Recife naquele tele-filme da Globo, porque era a cidade que eu via quando passeava de carro, e estava num filme, que devia ser feito longe.
Enfim, claro que se eu puder escolher, vou sempre preferir ver o filme na versão original. Mas eu acho que tem algo de enriquecedor - de certa forma, e num sentido mais de experiência do que te consumo da obra fílmica - em ver Julianne Moore gritar "Tenha vergonha. Tenham vergonha" depois de vê-la gritar "Shame on you. Shame on both of you". Unicamente pela sensação de deslocamento. Por não deixar esquecer que aquilo também é um exercício de trazer pra uma realidade diferente algo que alguém fez através e a partir de uma realidade específica.
segunda-feira, junho 23, 2003
Desabou na cama. Mas não sentia sono. Nem mesmo cansaço físico. Estava cansado de pensar. Queria um daqueles comprimidos que apagam a mente. Mas não queria dormir. Sabia o que estava errado. Queria acreditar que nada daquilo estava errado. Sabia da ironia das coisas mudarem em tão pouco tempo. Então, o que era certo, e foi certo, passou a parecer errado, crucialmente errado estava. E agora tinha que aprender a levar consigo mais esse arrependimento por não ter feito algo. “Como isso cansa!”, pensou.
Uma passagem do único Baudelaire capaz de mudar sua vida. Sim, poesia. Que não leva em conta o ser humano, como dizem, mas que está lá por causa dele. Sentir não é único da natureza humana. Ter consciência de que sente, talvez seja. Mas não estava preocupado com nada disso. Só é possível viver através de abstrações. E lembrar é exatamente o oposto disso. Confuso. Posto que a vida é só lembranças. A consciência nasce quando se está apto a lembrar. Uma vez leu em Umberto Eco que, em obras de ficção, o que está escrito é verdade, uma vez que se concordou em ler. Já em reconstituições históricas, tudo pode ser contestado.
Tinha a intenção de juntar todos os pedaços. Construir uma trama a partir dos fragmentos, não como nos filmes noir, mas como na vida real. E, uma vez que não soubessem que era uma reconstituição histórica, ninguém poderia negar a veracidade. De qualquer forma, tratava-se apenas de uma mentira na qual quis acreditar. De fato, uma ficção.
(continua)
... não importa se era um vestido preto. Muito conveniente, pois preto é sua cor preferida...
... e se tivesse cabelo ruivo. Perfeito demais, ninguém acreditaria. Mesmo que fosse, podia muito bem ser tingido.
terça-feira, junho 17, 2003
sábado, junho 14, 2003
quarta-feira, junho 11, 2003
terça-feira, junho 03, 2003
- Oi, só queria dizer que é incrível saber quem é você. Saber que você não era só aquela que ficava olhando pela varanda e rindo do nada. Sim, você é bonita. Mas não é só por isso. Já percebeu que tem tanta gente bela por aí? Você deve saber disso. Não é questão de eu ter prestado atenção em você, eu nem tava aí pra nada. Foi mais o fato de você estar lá e na hora que eu olhei. Nunca iria dizer nada pra você. Não mesmo. Até porque eu não saberia o que dizer. E eu ainda não sei. Eu continuo falando pouco, né? E falando baixo. O problema é que eu pensei que nunca mais fosse ver você e agora eu não imagino como seria não encontrar você de novo. Mas não porque você seja alguem especial... até pode ser, mas não é esse o caso. Acho que é mais por você ter reividincado seu ser. "Como assim aquela menina que olhava da varanda?". É. Agora eu sei... não era apenas aquilo. Você provou que existe de outra forma. Não era só uma visão. Melhor assim, né? Bom, de certa forma eu devia agradecer por não morarmos em Paris, pois poderia acabar como Baudelaire que nunca chegou a rever uma mulher passou, com sua mão vaidosa, erguendo e balançando a barra alva da saia...
sábado, maio 31, 2003
Se você soubesse que aquela pessoa com quem estava conversando sobre os benefícios da capoeira para o físico... Bom, se você soubesse que ela iria morrer poucas horas depois... Se tivesse como saber, o que você faria? Tentaria impedir? Mesmo sabendo que foi um fim trágico? Mesmo que tenha sido algo no qual você tenta encontrar uma tendencia romântica (na acepção mais idealista do termo)? Mesmo que você tivesse acabado de conhecer tal pessoa? Você se acharia capaz de mudar alguma coisa? Anos e anos de sofrimentos deixados de lado por causa de uma conversa de mais ou menos uma hora? O que você pensaria? Pois não a conhecia tão bem assim. Teria o direito de pensar algo? Sei, cinco minutos é o suficiente para mudar as coisas. Até menos, às vezes. Mas nem sempre é possível mudar as coisas. E mesmo que a conhecesse de longa data, talvez você não teria como fazer essa pessoa continuar viva.
quinta-feira, maio 29, 2003
terça-feira, maio 27, 2003
06h - acordar (ou fingir estar acordando)
07h - ocupado, comendo
08h - ocupado, esperando
09h/12h - ocupado, aula
12h - ocupado, dirigindo-se
13h/17h - ocupado, trabalhando (ou arrumando algo para se ocupar)
18h - ocupado, voltando pra casa
19h - ocupado, tomando banho, comendo e relaxando
20h/21h - ocupado, estudando ou tentando estudar
22h - ocupado, vendo TV ou lendo
23h - ocupado, preocupado com a saída
00h - ocupado, checando e-mails e vendo coisas na internet
02h/06 - ocupado, dormindo
... e, nas horas vagas, a vida.
quarta-feira, maio 21, 2003
Duas garotas, acho que estudantes da Universidade Federal, estavam sentadas naquelas cadeiras que ficam na parte de trás do ônibus (CDU/Várzea). Elas estavam conversando, um pouco alto, mas o necessário para um poder escutar o que a outra falava. Como sempre acontece quando pego esse ônibus, indo da aula para o trabalho na sexta feira, eu estava sonolento e nem dei muita bola para elas nem para o resto da humanidade que também fazia o trajeto.
Em certo ponto, as duas se levantaram e foram pra frente, acredito que iam descer ali perto da Riachuelo. Percebi, então, que uma usava uma saia curta, mas nem tanto, e a outra uma daquelas calças capri, nada demais, e eram bem bonitas as duas. Eu prestei atenção um pouco enquanto as duas se perdiam no meio das outras. Nesse momento escuto o seguinte comentário: "depois dizem que estuprador tem culpa?" Como assim? O que foi que as meninas fizeram de errado? Estavam sentadas na parte de trás do ônibus? Estavam sentadas pertos de homens? Estavam usando roupas que chamam a atenção? Falavam alto? Eram bonitas? Como assim? Não sei se estuprador tem culpa até que ele estupra mesmo. Mas aí já é tarde. Infelizmente sou um sujeito que tento ser diplomático e não gosto muito de violência, além do quê sou fraco. Infelizmente porque minha vontade foi dar um chute na cara dos dois sujeitos com minha bota de fazer trilha.
Um comentário desses me remete diretamente a um clima de filme noir. Todo mundo é culpado. Se algo acontecesse àquelas garotas, o cara que fez o comentário e o outro que concordou com ele seriam os culpados. Não por comenterem o ato em si, mas porque, através de um pensamento como este, eles mostram que seriam capazes de fazer, talvez só não fazem por algum tipo de incapacidade, respeito a regras sociais ou sei lá o que. Mas o que dizer de mim? Eu olhei para as garotas tambem, né? Posso condenar alguém num assunto desses? Vivo tentando evitar ter atitudes machistas, mas isso faz parte da minha formação. Reconheço quando isso vem a tona e tento evitar.
Pois bem, os caras culparam as meninas, eu culpei os caras... certamente sou culpado também. Com certeza uma trama de filme noir, só que com bem menos charme.
segunda-feira, maio 19, 2003
There's such a lot of world to see
- I could never do that!
- S'easy
Crescer dói, né?
Um dia eu vi Bergman dando uma entrevista na TV e que ele falava sobre a vida dele. Teve uma coisa que ele disse que deve ter mudado a minha vida de alguma forma. "Envelhecer é muito difícil e doloroso". "Ninguém nunca me avisou que era tão difícil". Não sei se por ser Bergman ou por ser um senhor de mais de 80 anos... mas o conteúdo disso melancólicamente pertinente na vida de qualquer pessoa. Ontem, voltando de uma 'noitada' às 6h da manhã, eu comentei com um amigo que 24 horas de um dia é quase nada para uma pessoa lidar com todos os seus problemas. Sempre tem algo que vai ficar pra depois. E ainda assim a vida pode ser longa demais...
quinta-feira, maio 15, 2003
Hoje eu decidi escrever um texto normal de blog. É. Algo que as pessoas leiam e compreendam. Que fale bem claramente das minhas experiências e que possa, talvez, faze-las pensarem que conhecem um pouco de mim. Ou, talvez, que elas se divirtam com algum acontecimento inusitado ou uma frase engraçada que eu bole. Nele eu posso comentar o assunto do dia, falar de problemas gerais da nossa sociedade, dar um testemunho desavisado sobre a vida nesse início de século. É mais fácil fazer as pessoas entenderem antes de sentirem, e talvez seja mais justo também. E certamente é menos desconcertante para todos.
A respeito de Os Palhaços de Fellini: um filme sobre a figura mítica do palhaço. É, aquele sujeito que normalmente se apresenta nos circos com a cara pintada e fazendo coisas patéticas. O filme é um documentário... aliás é um filme sobre a produção de um documentário que “resgata” a história do palhaço, enfatizando o processo de desaparecimento ou de perda de significado ou de re-significação desta representação de uma cultura popular muito antiga que foi varando a história e se adaptando às mudanças. A primeira cena do filme é daquelas que despertam uma nostalgia por algo que eu mesmo nunca presenciei. Um garoto é acordado por barulhos que vêm do lado de fora da casa e quando abre a janela vê uma grande lona sendo levantada. Durante a apresentação dos palhaços no circo o garoto chora com medo (eu também tinha esse medo de palhaços) e compara aquelas figuras circenses a outras figuras que encontra comumente pelas ruas. E talvez esses sejam os palhaços mais patéticos e mais assustadores de todos. Com inúmeras cenas de apresentações, belas tomadas do mundo circense, o filme mostra tanto seu lado cômico e quanto seu lado melancólico. Mostra bem como eles deram origem a cômicos da era do cinema e mais tarde da televisão com o humor corporal e as gags. É bem mais interessante do que esse texto; tem um visual belíssimo sem ser muito elaborado e revela uma pesquisa cuidadosa sobre o tema, embora não desvende tudo o que o espectador gostaria de saber, pelo menos no meu caso.
A respeito as adolescentes encontradas mortas no meio do canavial: todo mundo parece ter dado grande importância ao crime. Apareceu em todos os jornais locais, nos grandes sites, telenoticiários locais e nacionais, e foi um assunto corriqueiro no IRC e nos webfóruns. Sim, um crime chocante, sem dúvidas. E quando esse tipo de coisa acontece sempre ressurge uma discussão muito controversa e fragmentada sobre violência. Fala-se de pena de morte, de falta de vontade política para resolver o problema. Põe-se a culpa nas famílias que deixaram as meninas irem pra não sei onde não se sabe com quem, ou a culpa nas meninas por serem inconseqüetes e fúteis. Diz-se que a polícia vai prender logo os envolvidos, diz-se que nunca vão ser encontrados, que vai passar no Linha Direta. Gente que saiu do Brasil por causa da violência acha que tomou a decisão correta, quem ficou os chamam de covardes dizendo que é preciso lutar para que o país melhore. O Brasil não tem mais jeito. O mundo está perdido. É o final dos tempos. Bom, isso tudo deve fazer mesmo sentido, quando tudo no mundo é gerado por violência, desde a natureza até às normas de convívio social e as formas como elas são burladas. Não quero ser pseudo-filosófico nem pseudo-engajado, mas nesse momento está caindo uma chuva a pelo menos uma hora e deve estar dificultando a existência de muitos por aí. Tem uma porra de um vírus se espalhando em vários países e por enquanto nada pode ser feito. O mundo está cheio de conflitos armados em todo canto. O Brasil vive um momento em que todas as diferenças sociais são expostas num problema chamado tráfico de drogas. Andar pela rua é sentir bem todos esses problemas. E mesmo assim é preciso que um crime ‘bárbaro’ aconteça no seio da classe-média para as pessoas ‘esclarecidas’ emitirem suas opiniões cheias de preconceitos. O mundo não é tão simples, e uma simples atitude não vai modificar em nada a realidade. É preciso observa-lo de uma forma mais completa e não só quando entram no nosso jardim. E, ainda assim, ter certeza de que, mesmo que todas as providências possíveis e imaginadas sejam tomadas, pessoas vão continuar a morrer vitimas de violência de todos os tipos, inclusive das geradas por essas providências. Vamos ser culpados sempre.
A respeito de qualquer coisa: é impossível estar dentro de uma sala vazia.
terça-feira, maio 13, 2003
De repente você se depara com esse tipo de coisa: "o que fazer?". O que fazer? Provavelmente é uma decisão muito séria... só que normalmente é tomda de uma forma bem simples, meio que sem traumas aparentes. Isso porque tem que se decidir algo de qualquer forma... a gente meio que se acostuma a isso.
domingo, maio 04, 2003
... em casa, depois do Garagem
"Nem sempre existe coincidência entre ruptura e consciência de ruptura"Sérgio Paulo Rounet
Essa frase para defender que a pós-modernidade é um dos casos em que há a consciência de ruptura mas a ruptura talvez nem exista. Eu particularmente encaro o termo como uma irônia mais do que como a tentativa de afirmar que estamos em uma nova idade histórica. Sendo a favor ou contra o uso do termo pós-modernidade para se referir ao contemporâneo (termo que eu prefiro, embora seja pouco preciso e inúitil históricamente) ninguém pode negar que o projeto da modernidade sofreu nas últimas décadas golpes não previstos que acabaram por inserir mudanças e 'correções' à ilusão de uma sociedade moderna, o 'sonho' racional de uma vida moldada pela ciência e guiada pelo progresso.
Dito isto posso passar adiante. Hoje eu levei um dos melhores foras da minha vida - que não foram poucos. Mais: não sei se ela notou que foi um fora, pois seria preciso estar inserida num contexto bastante particular da minha vida para notar. E o assunto subjacente do que ela me disse tinha a ver com uma ruptura ou com a consciência de ruptura. Ela disse mais ou menos que estava lá para desmentir as coisas que eu tinha imaginado, especificamente sobre a impossibilidade de vir a conhecê-la, e que a razão de estar lá falando com ela era porque minha vida deveria mudar completamente, que eu deveria deixar de lado todas as formas de encarar a vida que eu conhecia e partir pra algo novo. Seguir adiante, talvez. Faz sentido, faz todo sentido do mundo. Foi o jeito dela de dizer: acorda pra vida. "Os sonhos não vão se realizar, ok?" "Eu não sou mais aquela menina que você viu na varanda e pensou que jamais conheceria." "Estou aqui na frente e sou bem real e nada disso é especial". O fato de ela ter me dito algumas coisas não muda nada objetivamente. Mas é bem clara a mensagem de que não adianta tentar realizar os sonhos, esquematizar alguma coisa, planejar... a vida é muito mais expontânea.
Ainda que não haja uma ruptura, é importante por trazer a consciência de ruptura.
Ruptura é uma palavra legal de se falar.
... a dor vem do desejo...
sexta-feira, maio 02, 2003
Problema#1: o tamanho da população é um dos grandes problemas do mundo, apesar de um certo sucesso de políticas de controle de natalidade; outras políticas de diminuição populacional menos ortodoxas se mostraram pouco eficazes, fugiram do controle ou batem de frente com os direitos humanos.
Problema#2: a economia global vem atingindo taxas absurdamente grandes graças aos valores agregados e ao jogo especulativo e negócios futuros, no entanto as riquezas que circulam no planeta ainda estão muito ligadas aos recursos naturais, renováveis ou não, e projeções apontam que até a metade desse século os valores vão ser tão altos que a Terra será pequena para sustenta-los, não havendo recursos capazes de cobrir a economia.
Problema#3: aponta na direção da má distribuição e do desperdício dos recursos o que vai aumentar cada vez mais a diferença entre os que podem dispor de excedentes e daqueles que apenas têm para sobreviver.
Problema#4: todas as projeções apontam para o período entre 2045 e 2060 quando se atingirá a "massa crítica" o que significa pouco tempo para mudar o quadro... tempo que, por sinal, está correndo agora.
Problema#5: quando isso acontecer, será um marco histórico sem precedentes pelo fato de já ter sido previsto ao longo dos dois últimos séculos, o que pode levar a conclusão que certas coisas em história são inevitáveis.
Problema#6: um acontecimento desse muda toda a forma de se estudar e de se enxergar o mundo, pelo menos deveria mudar, no entanto, os pensamentos pouco têm evoluído nesse sentido... vivemos numa época de revisão onde todas as linhas filosóficas são reprocessadas diante de contextos diversos dos quais as originaram e tem dado pouco resultado consistente, ainda que todos sejam interessantes.
Problema#7: o conceito de felicidade passa por uma crise na medida que não pode ser atingida por todos, se é que ainda pode ser atingida... hoje, quando mais pessoas têm algum acesso ao saber e á ciência, esse conceito continua a ser levado em conta da forma como foi encarado em épocas em que poucos tinham acesso a este tipo de informação... um desafio é lidar com a felicidade num mundo prestes a se colapsar.
Problema#8: diante desse quadro o crescimento, desde meados do século passado, no interesse por religiões que pregam o desapego material é uma política interessante para o contexto atual, no entanto o desapego simbólico não é exercido, por razões compreensíveis, e por isso mesmo é a grande barreira para encarar o colapso do mundo tal qual o conhecemos.
Problema#9: todos sabem que essas palavras pouco ou nada podem ajudar e no entanto inúmeras pessoas estão voltadas para este ofício o que dá um certo tom desesperado e desesperançoso a tudo que é lido sobre o futuro.
Problema#10: quem sabe o que pode ser feito não consegue por em prática por causa do distanciamento, quem poderia por em prática não sabe o que fazer... no meio disso tudo, a arte poderia, mas não consegue como incitar as duas vertentes a se aproximarem.
quinta-feira, maio 01, 2003
Problema#1: eu sempre estou esperando algo acontecer
Problema#2: sempre acredito nas coisas que as passoas falam só pra serem legais... um pessoa muito importante pra mim disse que eu não devia levar tão a sério tudo que as pessoas dizem... outra disse que eu não devia levar em conta pessoas que dizem qualquer coisa pra serem legais
Problema#3: sou invejoso, sempre quero ter as experiências que eu não vivi... por conveniência ninguém pode tirar isso das pessoas
Problema#4: sinto em demasia, e nem sempre tanta intensidade é necessária
Problema#5: tento compreender as pessoas, mas nunca vou conseguir entendê-las de verdade porque eu sempre fui eu
Problema#6: amor pra mim sempre teve uma carga de sofrimento, talvez como consequência da minha educação de filhinho cristão exemplar
Problema#7: meu senso de realidade distorcido (resumiria tudo isso, mas é bem sonoro)
Problema#8: sempre me sinto uma fraude quando alguém me elogia
Problema#9: nunca vou poder tocar numa banda de hardcore de mininhas, por motivos óbvios... como também nunca vou poder ser uma diva, nem modelo da Lancôme... e mais, nunca vou tocar numa banda de jazz, nunca vou ser bonito - por mais que meu cabelo esteja legal...
Problema#10: sempre acabo escrevendo mesmo sabendo que não vai ajudar em coisa alguma
"A força avassaladora, totalmente desnorteante, da contradição.Entendo agora que cada fato é anulado pelo fato seguinte, que cada pensamento engendra um pensamento oposto e equivalente. Impossível dizer qualquer coisa sem alguma ressalva: ele era bom, ou ele era mau; ele era isso, ou era aquilo. Todas são verdadeiras. Às vezes tenho a sensação de que estou escrevendo sobre três ou quatro homens diferentes, bem distintos, cada um deles representa um desmentido de todos os outros. Fragmentos. Ou a anedota como forma de conhecimento."
Por que escrever, afinal? Pergunto eu. Era pra ser um conversa... não um show de horrores.
segunda-feira, abril 21, 2003
Porra!
Quero mais isso pra mim não, tá?
Esse foi o limite.
É sério... o que tá acontecendo? Eu não quero que sorriam pra mim por causa do jogral de final de ano. "Ô, que legal que você fez!"... faz mais amanhã tá... seja um bom garoto e continue fazendo. Porra nenhuma! Porra nenhuma! Porra nenhuma!!!!!!!Pode ir embora... eu arrumo tudo... agora vão embora... desapareçam... o show acabou. ACABOU!!!!! Não tem mais porra nenhuma pra se ver aqui...
"Pra quê eu vou atualizar meu blog se eu não atualizo minha vida"
domingo, abril 20, 2003
Eu lembrei de um filme que eu vi faz muito tempo. Chama-se A Prova. Sobre um cara que é cego (deficiente visual, se preferir). Ele tira vive tirando fotos e pede para que as pessoas descrevam o que está nelas... é a forma dele enxergar as coisas. Sempre dependendo de um câmera polaroid, alguém para lhe contar e uma maquininha que faz etiquetas em braile. Uma des primeiras cenas ele, ainda criança, pede pra que uma mulher - e, se não me esqueço, é a mão dele - para descrever a vista de uma janela. A mulher da todos os detalhes que ela pode dar do que ela vê, mas o menino não acredita. Ela insiste que está falando a verdade, mas ele continua dizendo que não é. Ela pergunta qual motivo ela teria para enganá-lo. A resposta: "porque você pode".
Tem sempre uma visão com relação a todo mundo com que se relaciona. Pode se esperar sempre pelo pior das pessoas. E elas vão lá e fazem exatamente isso. Espera-se o melhor, e elas não surpreendem. Não se espera nada e elas continuam a fazer de qualquer jeito. É inevitável que façam bem ou que façam mal...
"Nunca havia provado o gosto do amor, até lhe ver. A vida é repleta de experiências provisórias e pessoas provisórias. Eu sei que, para você, serei definitivo. Não estou pedindo que você diga “sim” pra mim neste momento, isso não! Lhe darei um tempo para pensar. Apenas saiba que a amo muito e que estarei aqui para você, sempre"
Se você ouvisse isso acharia que é loucura?
sexta-feira, abril 18, 2003
quinta-feira, abril 17, 2003
Eu vou encontar você lá.
(eu estraria lá mesmo...)
(Gershwin continua valendo)
Someday she'll come along, the girl I love
Her smile will be a song, the girl I love
And when she comes my way
I'll do my best to make her stay
I'll look at her and smile,
She'll understand
And in a little while I'll take her hand
And though it seems absurd
I know we both won't say a word
Barra de aveia e maçã
Ingredientes:
700 g de maçã
¼ xícara (chá) de uva-passa
suco de ½ limão
1 colher (chá) de canela em pó
2 xícaras (chá) de farinha integral
1 xícara (chá) de aveia em flocos
1 colher (chá) de sal
250 g de manteiga
¾ xícara (chá) de açúcar mascavo
manteiga e farinha, o quanto baste para untar
Modo de preparo:
1. Ligue o forno em temperatura média (180 graus). Unte uma assadeira (25x15cm): espalhe um pouco de manteiga com um pedaço de papel-toalha para ficar bem uniforme e polvilhe farinha.
2. Descasque as maçãs e retire os miolos. Corte as maçãs ao meio e apóie a parte plana sobre uma tábua. Com uma faquinha afiada, corte fatias bem finas.
3. Coloque o suco de limão, a canela, as uvas-passa e as fatias de maçã numa tigela e misture bem.
4. Coloque a manteiga e o açúcar mascavo numa panela pequena e leve ao fogo baixo para derreter.
5. Coloque a farinha integral, a aveia e o sal numa tigela e misture bem.
6. Junte a manteiga e o açúcar derretidos aos ingredientes secos. Mexa com uma colher de pau até ficar homogêneo.
7. Separe esta massa em duas porções iguais.
8. Acrescente uma porção da massa sobre a assadeira untada e aperte com as mãos, cobrindo todo o fundo.
9. Acrescente as maçãs reservadas sobre a massa.
10. Acrescente a outra porção de massa sobre o recheio e aperte bem com as mãos, cobrindo todos os espaços.
11. Leve a assadeira ao forno pré-aquecido por 25 minutos ou até que comece a dourar.
12. Retire do forno, espere 10 minutos e corte com uma faca as barras de cereais do tamanho desejado.
14. Após esfriarem, conserve em recipiente com tampa em local seco e arejado.
quarta-feira, abril 16, 2003
terça-feira, abril 15, 2003
domingo, abril 13, 2003
...bom. Aí tinha esse cara. Ele estava atravessando uma rua e viu um papel no chão. Ele se abaixou para ver o que tinha escrito. Manda ele olhar para a direita. Quando ele olha vê um carro se aproximando e ouve-se uma pacanda. Corta para ele acordando. Na hora eu pensei: o papel só podia ser uma brincadeira de mal gosto. O papel estava no meio da pista e dizia para olhar na direção em que vinham os carros. Uma mensagem que servia para alertar o que ela mesma provocava. Não estivesse o papel ali, o cara não teria parado no meio da pista.
O que se segue depois é uma avalanche de pensamentos e reflexões sobre a vida e os sonhos. Sobre a humanidade, sobre evolução, sobre relacionamentos, sobre sentimentos, sobre filosofia, sobre ciência... e nada muito lógico. Ou melhor, nada muito bem articulado, como num sonho. É uma sensação parecida com a do papel que Waking Life me dá. Não necessáriamente por ser uma brincadeira de mal gosto. Mas no sentido de querer explicar coisas por ele mesmo despertadas. E não é o caso de ser bom ou ruim por causa disso.
Gosto de ver pessoas conversando. É interessante ver como um assunto vai se desdobrando, como as pessoas vão criando seus argumentos e como isso acaba definindo pontos de vista. Seja lá sobre o que conversam, é dessa forma que pessoas se conhecem. É como elas se constroem socialmente. E cada tópico levantado serve talvez para completar ou complicar mais cada um. Waking Life é só conversas e reflexões. Um filme com muito texto aparentemente é um saco. Porque não escrever um livro sobre isso? Provavelmente porque um livro precisa ser mais centrado, ter uma conexão de ideias. O filme é, talvez, um processo que levaria a um livro. E um filme se constrói em cima de imagens. E ele usa isso bem, fazendo certas simbologias, retirando discursos de um contexto e colocando em outro no meio da conversa.Em um dialogo se discute exatamente a diferença entre cinema e literatura. E Waking Like não é sobre um cara numa realidade estranha é sobre esse cara nessa realidade estranha. E isso faz muita diferença para o filme. Na forma como a mensagem é recebida.
Tem uma cena em que uma mulher esbarra com o cara e volta para ele para explicar como aquilo a incomodava. Porque eles se esbarravam e pediam desculpas e iam embora sem nenhum tipo de interação humana. E ela fala que não queria ser como formigas que se encontram mudam a direção e seguem como se nada tivesse acontecido. Ela faz esse discurso sobre o distanciamento das pessoas e acaba por resolver esse problema. Ao se mostrar insatisfeita e ir explicar isso ao cara o problema entre os dois para de existir.Parece tão óbvio, mas é tão difícil de acontecer.
sexta-feira, abril 11, 2003
O momento roubado
Comecei a escutar Eric Dolphy. Como terá sido enquanto ele tocava o sax para gravar aquela música? Fico imaginando-o colocar toda aquela energia que atravessa todo o universo em notas músicais. Como será sentir o ar saindo dos pulmões e se transformando em algo que vai deleitar outras pessoas? Será que se pensa nisso? Não sei mesmo. Mas o nome da música, The Stolen Moment, faz-me pensar que sim. Logo eu pensei no momento dele, que todo mundo de certa forma se apropriava para dar um significado de acordo contextos tão diferentes que o próprio Dolphy jamais poderia imaginar quando estava compondo - pelo menos eu acho. Por outro lado, o título pode significar exatamente o contrário. A música se inteferindo nos momentos alheios. Como aconteceu enquanto eu escrevia esse texto e como acontece enquanto ele é lido - mesmo que o leitor nunca tenha escutado essa música.
Roubar momentos, tê-los roubados. Isso sempre acontece. A não ser quando se está muito só - como eu estou agora, mas, ainda assim estou tentando roubar o momento de alguém. Uma pessoa sempre vai ter sua visão particular sobre algo que aconteceu a outra pessoa também. Na nossa vida, temos vários níveis de relacionamentos; dos mais superficiais aos mais profundos, dos mais fugazes aos mais duradoures, dos mais incostantes aos mais plenos... e todos eles se baseiam um pouco em momentos roubados. Na melhor das hipóteses, em momentos divididos (mesmo que nem sempre se tenha escolha).
É isso que acontece quando eu leio algo e intepreto de acordo com o que estou vendo. Ou quando uma música me remete a um sentimento particular. E um filme parece ter sido feito pra mim. Quando convido alguém para almoçar comigo. Quando digo a essa pessoa algo que sei que vai deixá-la pensativa. Quando escrevo algo... E, no entanto, alguém está roubando esses momentos de mim. Por exemplo, vem aqui lê algo e julga e interpreta e faz comentários. Eu li uma frase, ou ouvi, ou sonhei com ela e dizia o seguinte: pessoas são como personagens buscando alguém para criá-los. E, por tudo que escrevi aqui, acho que roubar momentos é uma das estratégias usadas nessa busca por um autor, por alguém (que pode ser só um ou vários) que nos faça existir.
quinta-feira, abril 10, 2003
terça-feira, abril 08, 2003
Por favor. Vá dormir. Me dê um beijo de boa noite antes. Deixe a música tocar baixinho. Vou ler só mais um capítulo. Claro que posso abraçar você...
Já é bem tarde. Quer encostar no meu ombro? Você não se importa se eu ficar passando a mão no seu cabelo, né? Só que vão me deixar em casa antes de você. Aí você vai ter que acordar. Mas pode continuar a dormir...
Vou apagar a luz. Você não vai estar aqui. Vou encostar a cabeça no travisseiro. Vou dormir. E ninguém vai ver para falar algo depois...
domingo, abril 06, 2003
Violência para encarar a vida. Às vezes só dessa forma mesmo para aguentar. Ontem eu dei um soco no estômago da vida. E depois que precisou tomar ar eu derrubei no chão e dei dois chutes. A partir daí tudo pareceu mais suportável. Mas não porque estivesse ficado mais leve ou mais lógico. Eu apenas aceitei que iria viver aquela atmosfera non-sense. A vista do alto era bonita, mas é mentira. Tudo do alto parece melhor. Mais distante. Menos ofensivo. Então é só fingir que está flutuando. Que está em algum lugar acima da sua cabeça. Aí você pode ver tudo de outra forma. Até as conversas que seriam um desastre passam a ser só aquelas coisas da vida, sabe? Desastres da vida também. Só que você ri. Você entreouve conversas e entende tudo. Eu vi tudo isso. Ora, se antes ela reclamava, um dia antes, e acontecia essa coisa que parecia impossível no meio das angustias, eu acho que só podia estar num universo paralelo. Ai é que tá! A vida é cheia de universos paralelos. E eu falando aqui da minha vidinha hétero (aliás, pretensamente hétero porque é meio óbvio que seja assexuada). Viu só? De repente eu posso até falar de sexo. E sabe? A culpa é daquela menina alta de vestido preto que ficava olhando pela varanda, rindo do nada, balançando a cabeça no ritmo da música. Como é ver as coisas daí de cima? Você nunca vai me conhecer, só que eu já conheço você muito bem. Na verdade, eu quem criei você. Sinto e sinto muito. De verdade, esse sempre foi o problema. Mas eu lamento. Eu que criei você. É verdade que tantos outros devem ter criado também, e você inevitavelmente se cria. E faz isso muito bem. E não veja isso como uma cantada absurda que eu não tive coragem de fazer. Não é sobre você... muito menos sobre mim. É sobre essas coisas todas que eu não sei explicar e crio pessoas para relacionar com elas. Se incomoda, eu peço desculpas. Não posso fazer mais nada. Agora é com você.
quarta-feira, abril 02, 2003
segunda-feira, março 31, 2003
Tenho sonhado com uma garotinha, ainda de colo. Esse sonho vem se repetindo com certa freqüência. Tentei dar um significado pra ele. Pensei que pudesse ser que alguém próximo a mim fosse ter uma filhinha pra logo. Lembrei até que três colegas de trabalhos estão grávidas. Parecia confirmar essa minha impressão. Depois soube que nenhuma delas ia ter uma filha... mas ainda assim pensei que pudesse ser. A garotinha parou de entrar nos meus sonhos e eu até tinha esquecido disso. Aí teve outro sonho. E ela aparecia muito mais do que antes. E interagia comigo dessa vez. E com muito afeto. Um tipo de afeto que eu não lembro de já ter sentido dessa forma. Sempre pensei que teria uma filha um dia. Sempre gostei dessa idéia. Talvez porque eu tenho três irmãos e sempre ter sentido falta de mais presenças femininas na minha família. Mas é uma idéia que eu descartei faz pouco tempo. Porque decidi que não vou ter filhos. Nem filha... Tenho me preocupado muito com a superpopulação e acho que seria hipocresia me preocupar com isso e ainda querer colocar mais seres humanos no mundo. Pode parecer radical. Pode parecer que é um motivo extremamente impessoal para tomar uma decisão dessas. Eu acredito que existem coisas que possam fazer uma pessoa passar de um ponto de vista extremado para um mais moderado. E poderia mudar facilmente de opinião se encontrasse uma pessoa com quem quisesse ter uma filha. Com quem poderia dividir a responsabilidade de criar, educar e dar suporte de todo tipo a alguém. Admiro quando duas pessoas criam uma criança pelas razões certas, quando têm certeza que querem dar prosseguimento a família de uma forma responsável, ainda que movido por um pouco de paixão. Por isso não serei um ativista da natalidade zero. Só tenho essa posição por ter certeza que não encontrerei alguém que me fara mudar de ideia. Que me fará querer ter uma filha... cuidar, dar carinho, educar... e depois ter orgulho dela, ficar feliz com ela, ter uma amiga pra te ajudar no fim da vida... Apesar de tudo, continuo achando um sonho bonito.
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Gostaria de dedicar esse post a uma amiga, pelos motivos certos, e a uma pessoa que não se identificou em sua contribuição, pelos motivos errados.
sábado, março 29, 2003
quinta-feira, março 27, 2003
Chico, não tive intenção de falar de um eu imutável. Era somente sobre um eu, que muda sempre, mas que continua sendo, inegavelmente, eu. Quando me referi a ser outra pessoa: tu, ele, ela... Era algo externo ao eu. É mais ou menos isso. Sei que já faz tempo e possivelmente estou diferente de quando escrevi aquilo. Mas nem tanto.
segunda-feira, março 17, 2003
mmpxls
Eu estava no banco de trás. Era uma viagem de volta depois de um fim de semana longe de casa. Lembro que estava tocando uma música antiga, Scott Walker talvez. A conversa parou aos poucos. Ficamos todos em silêncio por um longo tempo. Até que ele se virou para mim e perguntou se podia me abraçar. Claro que podia. Apesar de não sentir por ele o mesmo que ele sentia por mim, tinha por ele grande afeto. O acidente aconteceu durante o abraço. Não sei se ele pensou que o mundo podia acabar naquele momento ou essas coisas românticas que ele costumava falar com ironia. O fato é que ele morreu entre os meus braços e aquele momento deve ter durado uma eternidade, por isso, talvez ele tenha sido feliz para sempre.
terça-feira, março 11, 2003
Na impossibilidade de escrever algo mais 'elaborado' vou só dizer que sábado eu descobri que ainda posso me surpreender com as pessoas, mesmo quando elas fazem o que se espera que elas façam. Acho isso legal, talvez pelo fato de diminuir um pouco a sensação de tédio que vez por outra toma conta da minha visão de mundo.
Sim, sinto tédio... mas não porque o mundo seja entendiante, mas exatamente porque sei que ele é cheio de possibilidades. E isso de se ter vários procedimentos possíveis nesse mundo me deixa chateado pela falta de opção que eu (o maior culpado) e as pessoas que me rodeiam (as maiores culpadas também) e outras que não estão nem próximas nos damos.
Mas voltando: o que me surpreendeu no sábado foi a forma como as pessoas estavam sensíveis, amáveis e até mesmo apaixonadas. E digo isso sem medo de ter desviado minha visão por causa de um sentimentalismo, não mesmo. Até porque ultimamente tenho sido o oposto disso tudo, não avesso; mas tenho questionado muito sobre sentir certas coisas aparentemente nobres. Mas, no sábado, nada era excepcional, as pessoas continuavam a ser elas mesmas da forma como eu sempre as vi e não era uma data tão especial assim (era o Dia Internacional das Mulheres mas eu nunca entendi esse dia - sem nenhuma conotação machista ou feminista). Parece que as pessoas só lembraram que podem ser assim e sem tornar isso numa coisa especial... é algo que acontece... e só.
Poderia fazer como fez Daniel e relatar uma conversa legal que eu tive com uma garota, que eu até já conhecia, mas não vou fazer isso (parece até que já fiz). Não por uma espécie de timidez e sim porque não quero dar a isso um tamanho maior do que isso merece. Simplesmente porque fiz o paragrafo anterior... e é nisso que quero basear certas coisas daqui pra frente.
quinta-feira, março 06, 2003
... bom, prefiro sempre estar à disposição quando alguém me pede para fazer algo... talvez quando uma coisa legal for acontecer se lembrem de mim
Estou de volta...
... and I'm still dreaming of Cecilia
terça-feira, fevereiro 18, 2003
segunda-feira, fevereiro 17, 2003
Um amigo meu um dia disse que iria ler todos os livro que Kubrick leu, e na mesma ordem, se não me engano. Pode ser algo tentador agir da mesma forma que uma pessoa que admiramos. Talvez dê para se tornar um pouco como ela. Talvez seja possível sentir como ela. Eu particularmente acho que é muito possível. Mas, é importante saber quem você é. Eu já quis ser dez pessoas diferentes ao mesmo tempo. Isso porque sinto uma infinidade de coisas em intervalos muito curto de tempo. E entre um desses lapsos e outros, acho que no fim das contas eu só poderia ser eu mesmo. Mesmo que fosse os dez... mesmo que vivesse todas as experiências dos outros dez... mesmo com todo o esforço dos dez... eu nasci para ser eu mesmo. E não outra pessoa. E o que é pra mim... é meu. O que não é... é exterior, digno da minha atenção, lógico... mas, somente como expectador. As pessoas sentem as mesmas coisas, basicamente. Cada um tem seu jeito de reagir e até mesmo de sentir... mas é a mesma coisa no fim de tudo (aquela velha história de ver as coisas da superfície) é a mesma coisa. Por isso mesmo não é difícil sentir como outra pessoa. Uma pergunta deve ser feita: é isso mesmo que se deseja? Não já se sente o suficiente sendo uma pessoa? Aliás, às vezes não se parece ser mais do que o suportável sentir? Cada pessoa é um mundo. É justo e necessário querer entendê-las. É válido vez por outra se colarcar na posição de alguém para encarar uma questão de outra forma. Mas uma coisa é inevitável: você será sempre você. E o que isso tudo quer dizer? Bom... se coloque no meu lugar...
domingo, fevereiro 16, 2003
Você é tão incrivelmente bela! Mas se fosse incrivelmente feia não teria a menor importância; continuaria sendo o quadro de um Rembrandt cinco vezes mais autêntico. Bela, bela! No entanto, não quero dormir com você. Não, isto não é verdade. Gostaria de dormir com você. Gostaria muito. Contudo, se não dormr isso não fará a menor diferença. Continuarei a amá-la - a amá-la como um cristão deve amar seus semelhantes. Amor, repetiu, amor... É outra daquelas palavras sujas. Apaixonado, Fazer amor - isso é obscenidade que não consigo pronunciar. Mas agora, agora... - Srriu e balançou a cabeça. - Acredite ou não, agora posso entender o que quer dizer "Deus é amor". Que contrasenso! No entanto é a verdade. Enquanto isso, aí está este seus rosto maravilhoso. - Ele se inclinou para frente a fim de olhá-la mais de perto - É como se estivesse olhando numa bola de cristal, onde sempre existe algo de novo - acrescentou incredulamente. - Você não pode imaginar...
Mas ela podia imaginar
Não sei como é saber conviver com o horror. Mas, algo me diz que acontece mais ou menos assim. Se fosse cinvo vezes mais eu não seria cinco vezes mais forte; teria cinco vezes mais sofrimento. E se finalmente eu seguisse os conselhos e retirasse isso do meu estômago, seria cinco vezes mais vazio. Se isso for possível... cinco vezes mais vazio.
terça-feira, fevereiro 11, 2003
domingo, fevereiro 09, 2003
terça-feira, fevereiro 04, 2003
Vou acabar de ler todos os livros que tenho que ler. Escrever tudo que tenho a escrever. Ver todos os filmes que tenho que ver. Fazer todas as imagens necessárias. E depois não tem mais nada. Aí, talvez, alguma coisa faça sentido. Mas não estou interessado no sentido das coisas. Quero que tudo continue dando errado, porque eu não estou nem aí. Já fiz minha parte, ok? Por que insistir em fazer algo grandioso? Ninguém vai se importar, ok? É assim. Não tem nada a ver com jogo do contente... Tô nem aí pro lado bom das coisas. Isso é pra quem vive atrás de coisas pra reclamar. Que no fundo faz o joguinho ao contrário pra poder reclamar das outras pessoas por serem estúpidas em querer ser felizes... por serem felizes de fato. Escove os dentes com aquele creme dental que a Natura está lhe empurrando. Sorria! Sorria! E quando ouvir a melodia mais melancólica. Sorria, ainda assim. Porque é isso que eles pedem. Sorria! Sorria! Sorria! E chore de vez em quando. Isso mostra que você sente. Destruir vidraças também mostra que você sente. Mas não é certo fazer isso. Porque é o que dizem. Chore pra não destruir as coisas. Se destrua porque ninguém está com vontade de ver coisas despedaçadas por aí. É mais fácil não ver pessoas do que coisas foras do lugar. hahahahahaha Dê uma gargalhada. Porque eles se sentem bem quando você dá uma gargalhada sincera. Desde que você não ria da cara deles. Faça as coisas como eles querem porque eles não estão interessado no que você está com vontade de fazer. Aconteça logo! Leia logo isso porque eu não aguento mais esperar. Já esperei muito. Preciso finalizar isso. Porque depois não vai ter mais nada pra fazer. Nada. Aí eu vou poder sorrir e dizer que tudo o que eu fiz é algo que vem comigo faz tempo, e que agora eu estou aprendendo a encarar as coisas de uma forma mais sensata do que costumava, quando não tinha feito nada e ninguém estava nem aí pra mim. Aí eu posso sorrir em rede mundial. Ou até mesmo chutar vidraças e chorar. Talvez alguém pense ter entendido algo que eu disse... e faça uma coisa maravilhosa só para ter o motivo de me encontrar e passar um dia comigo como se fosse a única coisa da vida. Só que, então, vai perceber que já fez tanto, porque pode fazer mais. E isso deixa de ter essa importância e ganha outro tom. Típico de lugares e contextos ondes as coisas não precisam ter importância. Elas só precisam ser...
domingo, fevereiro 02, 2003
Tem certas coisas que não se pedem a uma pessoa. Às vezes quero pedir pra alguém que não exista mais. Só que esse pedido acontece porque ela existe... e mesmo que deixasse de existir deixaria um vazio... o que seria muito pior. Não vou dizer pra que não exista mais, porque isso prova sua existência. Mas também não dá pra negar isso. De qualquer forma, só existe porque eu me aproximei, ou deixei que se aproximasse. No fim de tudo, eu quis que existisse, e quero que continue existindo.
quinta-feira, janeiro 30, 2003
sexta-feira, janeiro 24, 2003
coisas para se pensar numa manhã cinza de janeiro
...poderia ter trocado tudo por horas de sono e talvez tivesse alguma vantagem nisso
se tiver que ficar meio-dormindo-meio-acordado não vai ser de todo ruim não vou sa-
ber o que é sonho e o que não é e, no caso, poderia ser um sonâmbulo escutando
sigur rós "nunca mais fui o mesmo depois daquele verão" só que faz vários verões
que eu não sou o mesmo e talvez eu possa ter voltado a ser o mesmo depois de
mudar tanto e tanto tantas vezes mas eu nem acredito que vá fazer alguma dife-
rença o "escolher o homem que vai ser para o resto da vida" eu perdi quem gos-
taria de ficar próximo e nem sei mais se existe quem eu poderia ser sei apenas
fazer coisas que eu não faria não me torna outra pessoa apenas muda a nature-
za destas mesmas coisas poderia escrever tudo em uma simples frase mas es-
se não seria eu como não seria eu se escrevesse textos mais ou menos
curtos fazendo mil referências é mentira quando dizem que poderia ser qualquer
coisa que quisesse eu nem sei mais porque fico triste ou chateado então esco-
lho qualquer motivo que preencha esta lacuna que alguém já rasurou e é tão difícil
b manter tudo no lugar quando não há lugar para tudo então que me esforce em
l fazer as coisas que esperam que eu faça pois pelo menos alguma recompensa
i por isso eu receba viu? nem era para ter chegado tão longe e agora que eu
s cheguei tenho que fingir que é isso mesmo ou ir para outro lugar mas estou
s muito l onge se for o caso repita várias vezes até aprender e se foda se achar
que é o a joguinho do contente tudo fica bem no final então saiba perceber o final
e nem l invente de recomeçar nada só se for para ser diferente e sem medo de
merepet i r vou vivendo fazendo coisinhas que dêem pistas do que sou agora para
no caso de no futuro alguém que eu venha a ser quiser entender o desimportante
quinta-feira, janeiro 16, 2003
terça-feira, janeiro 14, 2003
Neste momento, faço o que não devia fazer, mas não tem nada para fazer no momento.
Faço para não pensar no que não deveria pensar. Só que acabo pensando, porque é sobre isto que não deveria pensar que o que estou fazendo é. Então acabo fazendo, quando não era para fazer outra coisa, que não existe no momento, e pensando em algo que é necessário para fazer o que faço agora, mas não era precisa nunca pensar nisso. E para evitar pensar o que não devia, estou ocupando a mente com uma tarefa que me leva a pensar exatamente nisto.
O terceiro homem
Onde não precisava ter nenhum
E dois são especiais demais para não fazer parte
E eu sou apenas eu, o terceiro homem
Meu monitor pifou. E para não ficar sei lá quanto tempo sem mandar por essas bandas resolvi escrever qualquer coisa que não devia. Falar de como o tempo está quente e as estradas esburacadas. De uma febre que surge de vez em quando ou de uma noite de medo, mal-dormida, portanto. E dizer: "que legal" alguém leu algo que estava precisando. E por causa de tudo aqui eu pude saber como é ter uma fã. E também saber o que uma pessoa muito próxima acha do que faço, sem nunca ter tido coragem para me dizer. Alguém não pode esquecer que gosta tanto de ler isto aqui. Outra pessoa pode dizer, viagem. Copiar algo daqui em outro lugar. Bom, se for verdade, e seu eu mesmo fiz isso tudo, devo dizer: não foi nada. Nada mesmo.
sexta-feira, janeiro 10, 2003
Decidi dar um tempo, hoje, para sentir coisas acontecendo a minha volta. Deixei de lado a leitura instigante de A Ilha – sei que Huxley me perdoaria, a panorâmica nos Seis passeios pelos bosques da ficção de Eco, este certamente nem daria a mínima para o que eu faço ou deixo de fazer e dei folga aos meus personagens. Um pouco para tomar contato com pessoas de verdade, observá-las falar e ouví-las passeando por lugares que sempre estão lá, mas principalmente para aproveitar, simplesmente aproveitar a vida. Em meio a todos os assuntos e todas a visões destas horas jogadas ao leu, vez por outra vinha a minha mente as famosas conferências Norton que todo ano leva alguém cuja a obra tenha relevância a apresentar um cíclo de seis conferências em Havard. As conferências apresentadas por Umberto Eco estão reproduzidas nesse livrinho citado no começo do parágrafo, meu único contato mais “direto” com tais explanações (o professor usou uns trechos do livro no qual as coferências de Italo Calvino estão presentes em um trabalho, mas é melhor não contar com este episódio, pois não tem muita relevância).
Acho que já falei antes do meu senso de realidade distorcido, pois bem, pus-me a imaginar as minhas seis coferências Norton, que jamais vão acontecer. Um motivo simples para isso, ninguém se prepara para as coferências Norton, ninguém estuda, pesquisa e pensa tendo como objetivo único ser convidado a apresentar o cíclo. Não, essas pessoas passam a vida se dedicando as suas obras, no intuito de contribuir para a formação de conhecimento da humanidade e coisa e tal. Imagina uma banda formada só para participar de um festival hype, um Abril pro Rock ou um Reading da vida, ainda que essa banda chegasse a se apresentar, não sairia do lugar, não seria nada além de um afago no ego de seus integrantes. A arte não deve ser usada como vingança pessoal, nem como realização íntima de um desejo. Pelo menos não reduzida a isso.
Mas voltando, minhas conferências teriam o nome de 6 vezes perdido nos labirintos dos clichês. Sim, falaria de como os clichês da ficção afetam nossa existência. A vida está cheia desses clichês que sempre buscamos ofuscar por trás de uma busca extraordinária por algo maior. Não, não é o caso de achar tal busca desinteressante ou desnecessária. Mas, antes, o caso de mostrar como são os cliches a base de tudo. O clichê da mãe protetora, do aluno esforçado, da criança feliz, do trabalhador exemplar, do bêbado consumindo a própria vida, do amor não correspondido, dos momentos de afeto. É mais ou menos esse o objeto de meu estudo. Quero saber do ordinário, do patético, do ridículo, do banal, do que ninguém vai se emocionar se acontecer, mas acontece mesmo assim. A tarde de Sábado preguiçosa na rede, a comida simples feita por você mesmo para você mesmo, a pipoca quente e um bom filme na TV – grata surpresa, o livro emprestado com grifos, o disco que se escuta todo dia, das fotos tiradas num dia qualquer, uma pessoa que sentou do seu lado lhe proporcionou uma boa conversa, o mal cheiro de alguns lugares e o agradável aroma de outros, as noites escuras, as noites de lua cheia, céu estrelado, sol escaldante, calor inclemente, manhã chuvosa em baixo das cobertas, leite achocolatado e ir pro trabalho, pegar o ônibus, chegar atrasado, chegar cedo e ficar sozinho, os bons momentos em silêncio, as conversas planejadas que não se planeja, quadros que se ver em qualquer canto...Enfim, como isso tudo afeta a gente? São essas coisas, esses clichês, sempre apresentados nos textos, nas músicas, nas conversas e discursos, nos filme e nas peças... que acabam constituindo parte importante da vida da gente, parte que precisa existir para que algo fora do comum aconteça, e até o fato desse fora do comum acontecer não passa de um clichê também.
Talvez leve muito tempo para concluir esse pensamento, e mesmo quando estiver pronto, não será apresentado num ciclo de conferências, mas enfim, mais um clichê da vida é que a gente precisa centrar um pouco nosso olhar em uma direção, pelo menos de vez em quando. É preciso olhar ao redor e olhar as redondezas, olhar para o chão de vez em quando para olhar para o céu, saber para onde se esta indo no caso de querer mudar de direção em algum momento... E isso tudo me deu sono.
terça-feira, janeiro 07, 2003
Momento literatura superficial X música pop
a um amigo
Estou aqui por causa de um sujeito que carregava um saco de papel marrom numa noite escura. Eu estava andando absorto em meus pensamentos, indo em mil direções ao mesmo tempo, quando o rapaz, correndo, aproximou-se por trás. Virei-me assustado e depois ocorreu o golpe rápido e certeiro que fez o crânio encontrar os paralepipedos da rua.
Devia saber que não se fica tão perto de um homem que leva grande quantia em dinheiro e pensamentos sobre histórias de apropriações violentas do patrimônio alheio. Os pães rolaram pelo chão. Provavelmente estava com pressa para voltar para casa e jantar com a família. Não o culpo. Não tinha como saber o que eu levava dentro da minha bolsa.